domingo, 28 de dezembro de 2008

24 anos

Hoje você faria 24 anos, e se você não tivesse sido importante pra mim, não lembraria nunca.

Normalmente, eu acordaria com um sorriso e diria que eu não podia esquecer de te ligar. Ficaríamos horas ao telefone, falando das pessoas e das coisas. Te contaria que encontrei o Paolo no meio da rua, cheio de sacolas de supermercado e que ele estava muito diferente daquele tempo de quinta série, de camisa branca e calças azuis. Diria que não namoro mais o Davi, e que agora eu estou muito feliz com um cara que você precisaria conhecer, o Michel. Marcaria com você um dia de sol (porque anda chovendo muito, não é?) para que você o conhecesse e risse da sua simpatia. Você me diria que a faculdade de matemática é muito dificil e que ainda pensa em mudar para informatica e que, nossa, o Fundão é muito longe! E você reclamaria da violência do onibus do metrô e de como é um absurdo levar tanto tempo para chegar até lá. Eu te diria que também estou estudando no Fundão, mas no prédio atrás do seu. E diríamos que precisaríamos marcar um dia para almoçar juntas no CT (lá tem uns traillers que servem uns PF bem gostosos) e eu responderia que tínhamos que fazer isso sempre. Te confidenciaria que não gosto da faculdade que eu faço e você, com toda a sua prática capricorniana que eu sempre admirei, diria:"po, então muda, sai de lá!". E eu diria que se eu tivesse a metade da sua inteligência, faria até medicina! E ririamos juntas, entre humildade e simplicidade.

Perguntaria pelos seus pais e você me diria o quão bem eles estão. Você perguntaria pelos meus e eu te diria como o Pedro está bonito com 18 anos; você, que o viu tão garotinho nos meus aniversários de 12, 13 anos. Lembraria dos meus 15 anos, que você estava tão bonitinha com aquele vestido marrom. E ririamos muito com as lembranças da oitava série, do Victor, Ricardo, Diana, Marzollo (caraca, você se lembra dele?)...

E depois de quase duas horas ao telefone, você me diria que o lugar que você está é lindo, cheio de anjos e nuvens. E que sente muito a minha falta. Eu te diria que eu sinto muito mais a sua falta, você, que foi tão amiga durante os 7 anos de CPII, que esteve comigo, mesmo em turmas separadas. Diria que eu sempre te admirei com seus trabalhos impecáveis e com sua disciplina de moça capricorniana.

Te daria os parabéns pelos 24 anos e você me diria:"Parabéns você também pelos seus 24 anos". E gargalharíamos como se ainda tivéssemos 11.

***

A Dani pediu para que eu fizesse um post sobre o dia 20, e ele está tomando forma. Talvez eu escreva sobre como esse dia foi iluminado =P

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Férias

Puxa, 2008 está acabando, e todos falam da mesma coisa: planos, metas, projetos, este ano foi asiim, mas o que vem será melhor...Acho que não fugirei disso, rs.
Foi neste ano que eu nasci, o que, talvez, tenha sido uma coisa muito boa este ano. Ela esperou muito por esse dia e quando o espelho não refletiu o rosto dela, mas o meu, nós ficamos muito realizadas. Sinto-me feliz, bonita, mas ainda não me reconheço.
Foi neste ano que consegui abrir os olhos e desvendar muitas pessoas ruins. Foi um período triste; descobri que o que eu fiz e o que ela fazia não era retribuido com carinho. Todos nós esperamos algo em troca quando oferecemos ajuda. Um carinho, um apoio, um agradecimento. Hipócrita é aquele que diz que não espera. Espera, sim. E descobri que muitos que ela considerava fieis amigos não eram tão amigos assim.
Foi neste ano que a longa espera mais uma vez se transformou em frustração. Foi neste ano que tudo se transformou em cinzas, em pó, em nada. Neste ano, que determinei para que fosse o de mudanças boas, quase não saí do lugar.
Foi neste ano que esqueci de mim e da minha vida. Esqueci dos amigos, do namorado, da família, de mim. Foi mais um ano cansativo por nada. Foi um ano de muito choque, de indagações. Perguntei-me muito o que fazia na Letras, dando aulas de português, seguindo uma vida que ñunca foi pra ser minha, se pouco talento tenho. Perguntei-me muito porque não estava longe das gramáticas e perto das patologias e imunilogias e biologias. Perguntei-me porque longos projetos transformam-se em ruínas.
Foi neste ano que ela largou o TKD. Neste ano, ela entrou no New Dance e eu continuei seu projeto. O espetáculo, que tanto ensaiamos, é amanhã. Depois de 14 anos fora dos palcos, uma apresentação de dança. Pretendo, ano que vem, reiniciar o TKD e lutar, ter mais resistencia física, mental.
Foi neste ano que quase saí de casa. Com as malas quase prontas, tudo caiu por terra. Confesso que ainda não me recuperei da desilusão, mas ainda me esforço. Ano que vem tenho fé em concretizar o que ela tanto queria: ser.
Foi neste ano que conquistei pessoas de ouro na minha vida. Pessoas que estavam do meu lado mas que ela nunca tinha dado a devida atenção pra elas. Foi neste ano que descobri o que é o amor, o que é o "respirar fundo". Passei por apuros essa semana e fui socorrida de forma inesperada.
***
Passei por uma breve confusão essa semana. Por causa de homem, umas mulheres brigaram num happy hour onde eu comemorava o aniversário de uma amiga. Escorreguei, quebrei a unha no sabugo. Saiu muito sangue e, no escuro, achei que tinha quebrado o dedo. Michel atendeu o telefonema desesperado e saiu da Taquara para me socorrer. Acredito que tenha sido a coisa mais nobre que ele fez e, para mim, ele se tornou um super-herói, com a ajuda do seu fiel escudeiro Diego. Esse parágrafo é pra vocês dois, obrigada.
***
Um agradecimento especial à Dani, uma das poucas pessoas que tive a oportunidade feliz de cultivar do meu lado. Você estava do meu lado o tempo todo e eu nunca parei pra olhar pra você. Dani, quando crescer, quero ser igual a você *.*
***
Agora estou de férias e, juro, não farei mais o pecado que cometi a mim mesma durante essa semana. Fica aqui registrado, eu juro que me amo!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

You and Me - Lifehouse

Que dia é hoje e de que mês?
O relógio nunca pareceu tão vivo
Eu não posso prosseguir
E eu não posso desistir
Tenho perdido tempo demais
Porque é você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para perder
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você
Todas as coisas que quero dizer
Não estão saindo direito
Viajando em mim mesmo
Você deixou minha mente girando
Eu não sei pra onde ir daqui
Porque é você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para provar
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você
Existe algo sobre você agora
Que não consigo compreender completamente
Tudo o que ela faz é bonito
Tudo o que ela faz é certo
Você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para perder
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você
Você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para provar
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você
Que dia é
e em que mês
Este relógio nunca pareceu tão vivo!
***
Essa prova está consumindo minha vida toda. E essa música reflete exatamente o que eu sinto por ela.
Ando muito profunda, não dá pra escrever.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dezembro

Novembro acabou, november rain também (viu o sol que tá la fora?), e chega aquela época do ano que ela nunca foi feliz: dezembro. Sejam por motivos óbvios ou não, ainda vou descobrir. Farei uma coisa que ela não fez nos últimos anos de vida. Vou descobrir porque nunca mais ela fez.
Chegamos em dezembro querendo falar do ano que está acabando. Na verdade, pouco tenho a dizer deste ano, já que estou na área só desde julho. Foi bom nascer, está sendo muito legal viver assim, provocar polêmica na própria vida está sendo gostoso. Depois que ela se foi, decidi questionar tudo que ela fez: cortei seus longos cabelos (ela parou de cortar em 2006), retomei alguns contatos, mudei o dia-a-dia e o modo de fazê-lo...Muito ainda está por esperar, o que causa angústia. Muito ainda está para ser descoberto, está para ser feito.
***
Me olho nas fotos e não a vejo. Me olho no espelho e não me vejo. Isso é definitivamente estranho. Não nos reconheço. Tão iguais, tão confusas, tão diferentes.
***
Fiz algo que ela me mataria: parei de pensar e comecei a sentir. O moço da música quem me disse. Fiz, senti, e, até agora, não me arrependi. Deus queira que tudo volte a como era, e descobrir sentir o gosto de um colo sincero num domingo outra vez.
***
De repente, comecei a chorar no meio da rua. Isso foi assutador. Não entendi o porquê, fiz as contas e não estava na TPM. Simplesmente chorei sorrindo o céu de dezembro que me abriu a cabeça. 2008 foi um ano de espera; 2009 será o de conquistas (?).

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pensar é estar doente dos olhos

Parei para pensar: por que pensar?
As melhores coisas da vida são feitas sem pensar, nem antes, nem depois de terem sido feitas. Apenas fazer, deixar as coisas como elas devem acontecer. E se a vontade pede, ela deve ser obedecida. O dicernimento fala mais alto do que o pensamento. O pensar prende, o dicernimento dá a noção da vontade.
O mundo não se fez para pensarmos nele.
Daí, decidí parar de pensar, pelo menos para que não complete um ano de pensamentos fúteis e perdidos.
***
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
(Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa)

domingo, 23 de novembro de 2008

Sono

Ando sentindo muito sono agora. É só parar em qualquer lugar; onibus, ponto de onibus, metrô, ou até esperando o namorado se arrumar sentada no sofá. Acabo pegando facilmente no sono. Durante a aula. Dando aula. Fazendo provas.
Os pesadelos acabaram. De repente, voltei a dormir. Como se tivesse passado uma longa chuva de verão na minha vida: intensa, imprevisível, e por ser uma chuva de verão, a espera de que ela acabasse logo era angustiante. E acabou. E voltei a dormir.
Agora com licença, que eu não acomodo com o que me incomoda. Vou dormir.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Tensa

...sair de casa não estarei pronta para encarar a realidade de saber que é muito provável que te veja tão sorridente e feliz sem precisar das coisas que eu sempre ofereci pra você porque é assustador pensar como eu vou reagir?já que não sei nem como você está ou é agora pois se passaram alguns meses tá tá tá quase um ano e eu sinto sua falta e eu sei que você não sente e nem era pra eu pensar tanto nisso ah vou dormir chega de pensar...

Virou-se para o lado da janela. Arragou o travesseiro. Fechou os olhos com fúria. Pesadelos horríveis pela 4a noite seguida.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

De como estou feliz e satisfeita com meu cotidiano e uma reflexão meio depressiva

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Gosto de observar ações das pessoas. Por mim, ficaria sentada, com um balde de pipoca ao lado, assitindo as pessoas serem. Como eu também gosto de ser, acabo assistindo as pessoas serem enquanto eu sou junto com elas ou não.
No último domingo, enquanto eu era, assisti pessoas sendo e fiquei admirada. Pessoas reunidas num grande propósito, festejando, rindo e brincando. Todos estavam lá. Inclusive aquele que ninguém contava, o que foi mais bonito e emocionante. Estavam todos lá.
Vasculhei, entre minhas lembranças e as dela, coisas semelhantes. Não encontrei. Desejei que toda aquela cena também acontecesse comigo. Desejei que fosse aceita do jeito que eu sou e que fosse amada. Desejei que me respeitassem e que me valorizassem. Desejei que sentissem falta de mim.
Pode ser uma segunda parte meio "voucortarmeuspulsos", mas, na verdade, nem é tanto. Neste ano, eu e ela levamos várias pisadas, desaforos, nos ignoraram e nos esqueceram. Não nos ouviram e não nos respeitaram. Esqueceram de nós. E, para piorar, uma das pessoas que ela sentia muita saudade se foi deste mundo. É uma segunda parte meio real.
A vida não é "Malhação", em que todos são bacanas, ou "Friends" em que todos se encontram no mesmo café por mais de dez anos e compartilham segredos intimos. Pelo menos, minha vida não é feita disso.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Restaurar uma vida II

E o Catete vem me trazendo grandes inspirações ultimamente.

***

Sendo professora, eu aprendo mais do que ensino. Aprendo novas linguagens, novas histórias, novas vidas. O lado bom de ser professora é poder curtir esse momento de aprendizado. Via de mão dupla; e isso é muito gostoso. Gosto de ouvir histórias de alunos. Com tão pouca idade, eles têm muito o que me contar. Ela teve uma aluna recém saída da depressão no fim do ano passado, e ela ficou admirada com a força dela. Menina forte. Com 14 anos, tomava remédios para se controlar. Tentou se matar, agora não me lembro de quê.

Em mais uma das minhas idas ao Catete, enquanto esperava com a mãe e a avó a porta ser aberta pela minha aluna, nem percebi que a demora poderia ser um indício de algo. A avó apertou a campainha e ficamos de papo na porta. Num momento de grande desespero, mãe e avó se olharam, com aquele olhar que só quem entende sabe o que pode ter acontecido.

Conheci bem esse olhar por conta dela. Ah, ela mais uma vez. Ela que montou toda essa vida pra mim. Ela, que também passou por isso. Admirável, talvez. É difícil vencer a si mesmo, a tentação de destruir a própria vida. Juro, eu não teria coragem.

A avó apertou com mais urgencia a campainha. Desespero. Logo fiquei assutada; na verdade, já estava, pois sabia do que se tratava. Fiquei com muito receio de ver coisas que poderia não querer ver.

Ontem fui lá outra vez, para mais um texto, mais uma aula. Quando já ia embora, perguntei a ela onde ficava o banco e ela disse que perguntaria a avó. Fiquei no corredor da sua casa, esperando a menina perguntar a avó onde ficava o banco. O que me chamou a atenção foi uma foto muito bonita de uma enérgica garota loira e alta. Os dentes saltavam dos lábios, parecia feliz, pelo menos na foto. Por um instante, me perguntei quem era aquela garota na foto, tão cheia de vida e animada, bem vestida num vestido preto. Quando avistei minha aluna no fundo do corredor, com os cabelos desgrunhados e olheiras fundas, logo identifiquei.

A tristeza nos impede de restaurar uma vida. Mesmo triste, mesmo esquecida por si, ela tenta e isso é notável. Consigo ver nela a força de mudar, de voltar a acompanhar o mundo. Tenho muita vontade de perguntá-la o que a deixou assim. Gosto de ouvir histórias.

Pois espero que a aluna também goste de ouvir as minhas histórias dela.

***

Você leu, gostou, mas não quer comentar aqui? Tá, td bem, me manda um e-mail: patriciateixeiramonteiro@gmail.com

P.S.: pessoa que quer me fazer uma surpresa, me mande um e-mail, ainda espero...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Olhar sobre a vida

E assim que ele entrou no onibus pela porta de trás, o motoristab percebeu e gritou de lá da frente: Pode descer daí, moleque! O pivete logo esbravejou um vai-tomar-no-cu, desceu do onibus e tacou-lhe uma pedra. Eram vinte centímetros da minha cabeça...
***
Morar na rua é fácil, pensava comigo mesma dentro do 464, seguindo em direção ao Catete. Morar na rua te deixa isento das obrigações. As pessoas ficam com pena. Você consegue fácil um vidro de cola pra enganar o estômago. Morar na rua não te obriga a ir pra escola, porque lá é muito chato. Na rua, você pode ver aqueles executivos que tanto ralam de terno e gravata, que correm pelas ruas, que suam para levar comida para casa, para sobreviver. Quem mora na rua sobrevive sem ralar. Pedem esmolas, conseguem compaixão de quem passa desapercebido por ai, assaltam, assustam. Nada precisam fazer. Se drogam. Se matam. Se esquecem. Vivem com muito mais intensidade do que nós. Possuem o corpo muito mais resistente.
Das mães que engravidam e largam o filho por ai. Eles crescem na rua, tentam sobreviver. Sobem no onibus do metrô com o prazer de arrancar de quem luta o sonho do livro caro de medicina. Sobem nos onibus pela porta de trás para nos assustar e, não satisfeitam, tentam nos matar. Se a pedra tivesse me acertado, viria em cheio na minha nuca e eu morreria sem dor alguma. Ele saberia? Tudo que ele queria era subir no onibus.
Eles se drogam, bebem, assustam. Se fossem eles a serem os assustados?Mal sabem eles que nós temos medo deles. Eles sabem. Tiros, muitos tiros. Cuidado aonde você vai.
Na volta do meu trajeto, vindo do Catete para o Estácio, dentro do 433, o onibus parou. Tive a oportunidade de ver um belo yop tchagui dado por um leigo em taekwon do. Era um moleque mais velho aplicando o pé em cheio no peito de um menor. Talvez eu estivesse assitindo uma boa exibição de matsoki; ela pagou 70 por mes durante 7 meses para não conseguir aprender o que ele fez no meio da praça sem pagar nada. O menor apanhou e ninguém fez nada para conter o maior. O onibus voltou a andar quando o menor estava desacordado no chão.
Será que há solução para esse tipo de vida? Onde está a educação do respeito? Até nós, que vamos à escola, que lutamos para uma vaga na faculdade, aprendemos a ser violentos no dia-a-dia. Esquecer das pessoas a nossa volta, seja por medo, seja por comodismo.
Um político novo, um prefeito, um governador, nenhum deles mudarão esse tipo de comportamento. O mundo virou selva violenta de quem é mais apto. A cidade de Darwin.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os bons morrem cedo

A vida nos prega peças.
E depois que eu saí daquele universo tão tomado por coisas estranhas para mergulhar de vez no vestibular, muito senti medo. Estive sozinha por muito tempo e não sabia como agir na companhia de pessoas. Apredi tão devagar, que, dessa vez, não deu tempo de aprender a lição que você poderia ter me dado.
Lembro-me que a sua inteligência era tão notável que você me ajudava antes das provas da escola. E eu nunca me esquecerei das tardes no seu quarto ouvindo Backstreet Boys. Guardo com carinho as fitas que eu usava pra gravar nossas besteiras. Suas cartas não estão amareladas porque gosto de ler e reler.
Fico rindo sozinha quando eu me lembro das nossas histórias dos doze anos. Lembro das nossas histórias e das primeiras paixões. Dos barracos que a gente encenou. Lembro da minha amiga, minha grande amiga, que sempre me dava um conselho prático quando a filosofia caia melhor.
Quando nos separaram, quase morri. Estudar sem você na minha sala poderia ser assustador, mas foi justamente ao contrario. Vocë continuou comigo e me apresentou outros amigos. Tínhamos mais histórias para contar, dividir. Não deixamos de ir juntas até o metrô, depois de uma longa manhã de estudos. Adorava te encontrar no caminho, porque pegávamos sentidos opostos da Linha 1.
Nossas tardes de sábado ao som do Sonic era perfeito. Aquele bonequinho azul rolando em nossos olhos nos deixava alegres. Respeitava ao maximo sua família, devidos aos problemas. A minha sempre te adorou.Não tinha como reclamar de você; ninguém tinha o que dizer contra você. Todos te adoravam, mas eu te amava, porque era você uma das minhas melhores amigas nos tempos de escola.
Fazíamos aniversário quase juntas e eu me sentia como se fossemos o espelho uma da outra, com suas diferenças. Sempre profundas, esforçadas, capazes, responsáveis. Sempre fui mais animada, para esconder a melancolia que você deixava transparecer no seus olhos escondidos atrás dos grossos óculos de miopía.
Nos meus 15 anos, tive que falar do quando você era importante. Como você estava bonita enquanto tomava cuidado de estar arrumada para minha festa. Você lá me deixou feliz. Sempre adorava falar de você nos meus aniversários. Capricornianas, nós duas. Eu de 26, você de 28. O que são dois dias, porque podiamos ser gêmeas...de alma!
A entrega da Pena de Ouro foi um dia que me encheu de orgulho. Minha maior amiga lá em cima, ganhando um prêmio por todo esforço que fez. Merecido. Mereceu depois de tantos problemas de trabalhos em grupo, depois de tantas dores de cabeça e correria. Você venceu a Elizabeth Pena na 5a série! Venceu o Paixão na 8a! Venceu o Fernandes no 1o ano!
E a vida pregou a primeira peça; me derrubou numa grande derrota na minha existencia, sofri e chorei sozinha, sem poder recorrer a ninguém. Perdi você de vista, não sabia mais onde te procurar. Queria ter você ao meu lado e nunca mais pude ter a chance de, novamente, lhe dizer o quanto você foi importante pra mim.
Você se foi, e eu não pude lhe dizer que uso aparelhos como você usou nos tempos de escola. Não pude lhe mostrar que sou outra pessoa, com outro rosto. Não pude ouvir de você os elogios que você fazia a mim, porque os amigos conseguem ver a beleza que, às vezes, ninguém encontra. Atrás dos seus olhos grossos e aparelhos dentários, via a linda menina que seria uma grande e xuberante mulher. Tenho certeza que seria, Livia, eu sempre tive.
Hoje você não mostra mais pra gente seu esforço em tirar boas notas na escola. Não joga mais Sonic, nem ouve Backstreet Boys. Este ano, não comemorarás seu aniversário junto comigo e eu lembrarei de você. Não pude te dar um abraço hoje, aos 23 anos, depois de 12 anos de carinho que senti por você. Quero fazer diferente, e não deixar que as coisas ruins tomem conta das boas. A amizade é boa, Lívia, e você, no seu silêncio e melancolia, me ensinou que a amizade é boa. Esquecer não é perdoar, mas saberei como fazer.
Você deve ter sofrido muito nos seus últimos dias. Deve ter sonhado com dias melhores, que não virão. Deve ter sonhado com a vida, mas Deus fez seu papel de levá-la para Ele. Ele leva sempre os bons, eles morrem cedo.
Te amo, Livia, te amo muito! Obrigada por tudo!
***
Minha amiga Livia Mirella morreu em 30/09/2008 e eu nem pude lhe dizer o quanto a amo. Disse-lhe quando adolescente, mas entendam, todos, que os amigos são importantes. Eles se vão, e voltam, só basta deixá-los voltar.
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Ah, hoje não tem alter-ego. Na verdade, estou meio frustrada. Esforço não se encaixa comigo e...nhá, deixa pra lá...
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Ah, Marcela, tentei não ser tão profunda, pode postar que eu deixo ^^

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Recuperar uma vida

Tá, eu sei, eu reclamo muito da profissão que ela escolheu pra mim. Hoje, porém, vou dar um creditozinho a ela, mas só dessa vez, hein? Ou não...
***
Saí de Copacabana, depois de duas horas muito animadas de aulas intensas com uma jovenzinha de 14 anos, para uma outra aula. Confesso que não estava com o melhor humor desse mundo, juntando TPM com o fato de estar sol, calor e eu estar andando pela Zona Sul ao lado de pessoas com trajes de banho (e eu de calça jeans e camiseta). Tinha que ir, né? Ganhar dinheiro, ossos do ofício. No trajeto, fiquei matutando sobre como é tão chato se empolgar numa aula enquanto o maldito do aluno está quase pegando no sono. Fiquei matutando sobre minha vontade extra-comunal de sair dessa vida e entrar num laboratório cheio de microscópios. Cheguei à conclusão que nasci pra ser pobre, mesmo...
O prédio era muito bonito. Pensava que, no Catete, só tinha aquelas casas velhas, tombadas pelo patrimonio do município, com suas paredes descascadas e portas de madeira velha, recheada de cupins. Parecia que eu estava no outro mundo do Catete.
Lembrei o que a mãe da aluna havia me dito e fui com o psicológico preparado; sabia o que eu ia encontrar ao subir o elevador. Ela teve problemas semelhantes quando tinha a mesma idade da tal da minha aluna. Ela tomou remédios também. Ela sentiu-se triste e desesperançada. De uma forma ou de outra, conseguiu vencer boa parte de toda a melancolia do fim de adolescencia. A herança que ela me deixou foi a baixa auto-estima. E acho que tenho motivos para reclamar das minhas coisas (apesar de não querer reclamar tanto assim, sabe?).
Enquanto conversava com a menina, percebi que suas mãos tremiam e sua vontade de ser não existia na sua expressão. Aquilo me deixou triste. Foi uma hora de aula apenas, mas, para mim, foi como se eu voltasse a vida dela e sentisse um pouco da tristeza que ela sentiu quando tinha a idade da minha aluna. Elas não tinham aquela vontade de ser. Ser é muito difícil e até entendo que, às vezes, é difícil ser. Acordar sendo e ser até o fim do dia. Vestimos uma fantasia e saímos por ai. Não somos nós mesmos sempre. Não sou eu mesma fora de casa. Nem dentro. Tenho sonhos, pensamentos, vontades, que deixo quietas até o dia acabar. Em meus sonhos, tudo se realiza. Deixo com que eles sejam a minha realidade e isso é muito mais profundo do que difícil. Todo mundo é assim.
E a minha aluna estava cansada de ser. São várias as hipóteses que podem ter levado a pequena jovem ao cansaço. Pessoas, ou falta delas, algum tipo de decepção ou qualquer outra coisa. A princípio, pensei que seria um grande desafio, mas depois que ela disse que eu não parecia uma professora, mas uma amiga dela da escola, percebi que este caso seria talvez o mais emocionante.
Para quem já sofreu muito um dia, muita mágoa fica pelos dias, meses, anos que se seguem. Um lugar, uma música, uma frase, qualquer coisa. Andar pela Zona Sul me faz lembrar de muitos fatos da minha vida, de muitos erros. O tipo de pessoas que frequentam o lugar, o cheiro da praia da Zona Sul. Não que seja complicado, nem gostoso. É engraçado, tétricamente engraçado, lembrar de coisas que deveriam ser esquecidas. A gente guarda coisas que nem prestam mais. Pois se não concorda comigo, guarde um dia seu para arrumar aquela gaveta nojenta que você não encosta há anos. Além de traças, você vai achar uma carta de um antigo amor, de uma amiga que se foi, uma foto da turma da escola. Isso vai te levar aos fatos e você vai ver que você sofreu um dia. Talvez mais ou menos do que a menina do Catete. O lance é quando a gente tenta passar por cima. Ou, simplesmente, não tenta.
Pois o que me trouxe aqui para falar desta aluna não foi o caso de ela ser uma menina a se recuperar de uma depressão, mas de ser uma menina que luta contra a doença. Foi ela que disse à mãe que queria voltar a estudar. Foi por causa dela mesma que a mãe dela me ligou. Será que lutamos pelo que nos desagrada? Ou será que deixamos com que as coisas (nos) fagocitem?
Qual é o papel dos problemas da nossa vida no nosso mundo? E para que servem os amigos?
***
Ando numa fase muito profunda da minha vida, mas tudo está muito explosivo, à flor da pele. Peço desculpas se choco ou causo desinteresse. Sinto agora, pela ausencia de vocês, que meu blog virou diário. Porque diário é uma coisa que ninguém lê...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Que morra!!!!!

Tá, ai você vem me dizer que nunca desejou que alguém morresse?
Quando a gente quer que alguém desapareça do mundo, a gente, impliscitamente, deseja que esta pessoa morra, mas isso é macabro demais pra ser aceito por ai. Imagina só se eu viro aqui no meu blog e diga:"Sinto mó vontade que de fulano morra...aiai". Bate polícia na minha porta me chamando de subversiva!
Mas a verdade é que, no fundinho mesmo do nosso ser mais malvado que há dentro de nós, desejamos que aquela garota ou aquele cara suma da cidade, do estado, do país, do mundo, da Via Láctea...Então digamos que eu queira que alguém pegue um onibus espacial da NASA e voe para Jupiter, certo?
Pelo menos é o rezo todas as vezes que passo perto da casa desse alguém.
Não vivi essa história, isso aconteceu com ela. Antes, muito antes de eu nascer, ela decidiu que ia fugir de todas as formas da pessoa que ela amava. Concentrou todo o seu ser para fazer bem feito, de tal forma que ela me ensinou a não pisar em certos lugares da cidade. Isso, para mim, pouco me fazia diferença. Tudo era muito contra-mao, e juro que estou admirada em saber o quanto que ela gastava num trajeto chatinho para chegar até a casa desse alguém.
Hoje em dia pego a Linha Amarela e, mesmo demorando bem mais do que ela demoraria se ainda esse alguém existisse, é um trajeto mais movido a "aventuras" e paisagens interessantes (sempre é bacana ver metade da Zona Norte de cima de uma Grajau-JPA).
A cidade é grande, de tão pequena (ou pequena de tão grande, sei lá), de tal forma que aqui, tão perto de casa, fui dar de cara com a figura evitável numa das minhas idas ao hospital. Nesse dia, senti tudo que ela sentiu nos anos que amou esse cara. Isso foi angustiante por alguns segundos e tive a plena certeza do que ela tinha me falado antes de morrer.
"Cuidado, ele suga sua felicidade"
Um dementador!
E, no momento em que eu passei ao seu lado, senti a nuvem negra e podia até ver que ele não tinha os pés tocados no chão. Um dementador (vocês não leram aquele livro?) pode sugar sua felicidade. E foi o que ele fez, por breves segundos. Lembrei-me de coisas que já até tinha sido apagado da memória. Coisas que você conta ou na mesa de bar para as amigas, finalizando com "QUE MORRA!!!", ou no divã do seu psiquiatra (juro que a primeira opção é mais adequada).
Por agora, tive que ser forçada a frequentar o lugar que ela tanto frequentou antes de fugir das lembranças. Atravesso aquelas ruas estreitas de Zona Sul com o temor de encontrá-lo novamente. Sigo a calçada apertada dizendo baixinho comigo mesma "...que ele não saia de casa e não apareça por aqui...". Não que ele morra, dementadores não morrem.
Mas que ele tenha saído do bairro, da cidade, do estado, do país, do mundo, da Via Láctea...é mais politicamente correto...
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...pois atire a primeira pedra quem nunca desejou isso?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Psicológico aonde?

Estou cansada de dizer por ai que as pessoas meio que conduzem nosso psicológico. Pode até você não concordar comigo, mas os psicólogos existem para quê? Na verdade, o que me cansa mesmo são justamente as pessoas. Ah, não, tipo...como posso dizer...
Se eu pudesse, ficaria por dias trancada no quarto sendo feliz.
A urgencia de viver me faz querer sair do quarto. Tenho 23 anos, nasci desse jeito, mas ela me fez perder 4 anos. "E quatro anos é muito tempo quando as coisas não vão bem". Queria trancar minha vida no meu próprio quarto, adiantar coisas, ouvir músicas, ler livros e desligar os celulares. Diga a eles que não estou. Diga a eles que estou cansada de viver.
Não acredito que isso seja um grande drama, mas cansei de pessoas. Não vejo mais graça nelas ou elas que não me acrescentam em nada. Deveriam acrescentar, já que fazemos isso à outras pessoas, sempre. Aprendemos com elas sempre. E eu não aprendo nada; não porque eu não quero, mas porque elas não me ensinam. Ou porque a vida está muito corrida e cara para ser vivida, ou a falta de paciencia de seja-lá-quem-for é maior do que a vontade de ensinar ou aprender.
É como se eu sentisse a solidão quando estou cercada de pessoas.
Ela me deixou um milhao de pessoas e chamou a todos de amigos."Cuide deles; eles cuidarão de você". Deles todos, descobri uma penca que não presta. Não, não presta, não serve para esse processo de mudanças que eu passo. Sou ela em carne, mas em mente não sou. Nem em rosto! E não sei se consigo viver com muitas dessas pessoas da forma que elas oferecem. Será que preciso trocar meu círculo?
É curioso, principalmente, quando você leva para o psicológico. Aonde está esse psicológico que se altera quando estamos com pessoas? Não quero pessoas, e o psicológico vai aonde? Talvez eu diga um "quem eu quero não me quer, ou não pode ter a mim?" Vida corrida maldita, sinto falta de pessoas que estão perto de mim. Semanas longas, dias compridos, segundos intermináveis.
E quando vemos, já é segunda outra vez...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dos grandes guerreiros

Marcela veio até a minha pessoa e disse:"Nao entendo nada do seu blog". Fiquei feliz; este era meu objetivo.
Marcela, minha querida e nova amiga do extremo oposto da Grajau-JPA, desde quando a vida é facil de entender? A vida é feita disso: de complicações!
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Hoje eu vou falar deles. Deles que lutam, deles que sofrem, deles que não recebem o mínimo prestígio.
São eles que estudam por 4 anos numa faculdade, seja pública (e com todos os seus problemas governamentais) ou particular (com todos os seus gastos de mensalidade e afins) para seguir uma filosofia teoricamente bonita. Alguns deles fazem pós, mestrado, doutorado, pós doutorado. Dignos de admiração e orgulho.
São eles que odiamos no meio da prova, principalmente a de matemática. São eles por quem nos apaixonamos (mais velhos, maduros, tão inteligentes...aiai). São eles que ouvem nosso desaforos, nossa raiva. São eles que são xingados, amados, odiados, queridos. Eles, os mesmos que passaram 4 anos sendo alunos (sem contar os tempos de escola), odiando e amando os seus, que também passaram os mesmos anos, que passaram os anos, que passaram...
Quero falar deles que me ensinaram a fazer o que faço agora; sem eles, não teria um blog. Foram eles que ensinaram a fazer o que você está fazendo agora; sem eles, você não entenderia nada do que está escrito. Quero falar deles que, de alguma forma, nos inspiraram. Seja pela sua aula, ou pela própria profissão.
Apaixonei-me diversas vezes por professores. Na sexta série, era gamada num de história. No pré vestibular, na primeira vez que tentei, olhava disfarçadamente por outro de história. Sou, atualmente, apaixonada por um de geografia, matéria que eu sempre curti nos tempos de escola. Este me inspirou de diversas formas, sempre que eu o vejo em ação; mas nunca fui sua aluna.
Hoje, por eu conviver mais de perto com esta profissão ingrata e humilhada, tenho uma gama de amigos que compartilham do mesmo ofício, historias semelhantes. Ouço de muitos a frase conhecida "Larga essa merda, nao te leva a nada". Ouço dos alunos o desprezo deles por mim "Não preciso da sua aula; compro um livro". Ouço mães apontando seus dedos ricos na minha face pobre, acusando-nos de não termos feito seus filhos passarem de ano. Ouço mães felizes beijando seus filhos quando eles passam, pois o mérito, ai sim, foi deles.
Ingrato ofício. E comemoramos na próxima quarta-feira. Bendito seja o professor que receber um abraço de um aluno no seu dia...
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Um beijo todo feliz e especial aos que me cercam e são professores, como a Marcela tia dos pirralhos do municipio, Michel tio barbudo de geografia, Tota, Gabriel, Cristiano, Aline e outros tios e tias de português da Letras UFRJ (entre porraloucagens e afins), Luiz tio violentado por alunas de matemática, Gabi, Thais, Pedro, Marcelo tios e tias que aturam os alunos da Jucélia na Tijuca, entre tantos outros coleguinhas de profissão que estão por perto, mas não os mencionei porque são 23:53 e minha mente foi corroída pela aula de matemática.
Um outro bem especial aos professores que me aturaram e que, um dia, vão cair neste blog e vão ler esta pequena e não inspirada declaração de amor e ódio à profissão.
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Para nao dizer que nao falei de borboletas, um beijo àquela que não está mais ao meu lado sendo minha melhor amiga, mas que foi encaminhada por mim para trabalhar comigo numa bela manhã de sábado numa igrejinha qualquer no Engenho Novo, sinto-lhe saudades enormes.
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Só hoje larguei meu eu-lírico, porque os professores merecem mais atenção do que ela, safada, que me colocou nesse destino medíocre de ser professora. Maldita seja ela, que mudou de ideia no dia da inscrição da UFRJ ¬¬
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Marcela, você entendeu? Ou quero que eu te explique no quadro? Rs, te adoro!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Da falta de palavras

Ando meio sem assunto.
Na verdade, ando muito sem palavras.
Isso acontece porque eu venho falando tao pouco e sentindo tantas coisas...Acho que o Fagner muito fala por mim em Canteiros. É estranho nao se contentar com as mesmas coisas que antes. Nao pelo fato de que ela se contentava com estas coisas, tanto que eu tambem me senti feliz por um tempo. Mas parece que tudo nao tem mais o mesmo encanto.
Como se eu caisse num buraco machadiano e reproduzisse um capitulo de Memorias Postumas, De quando nao fui ministro.
Juro que estou tentando mudar essa vida que ela me deixou, mas está dificil. Estou sozinha nessa empreitada. Ela me apontou algumas pessoas em que eu podia depositar confiança, mas a maioria destas já me assustaram com suas reaçoes. Eu sei, e ela sabia, quem poderia ajudar. Esse quem nao existe mais. Entao, parece que tudo está vazio. Ou cheio de mais para entrar alguma coisa. Talvez dependa do ponto de vista.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Esquecer não é perdoar

Abri umas pastas e logo vi aquele ícone de WMP entre tantos JPEGS numa pasta chamada "fotos". Dei um clique duplo e logo identifiquei a música. Não sei se foi a coisa certa.

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Os acordes de uma canção nos fazem memorizar letras e passagens da nossa vida. Os trovadores medievais cantavam seus próprios poemas. Ilíada e Odisséia são cantadas no original, ao som de uma lira. Texto lírico, literário. A palavra surgiu do intrumento.

Ela sempre tinha na memória lembranças de coisas da sua vida com trilha sonora. Ela ouvia Fogo, Capital Inicial, e lembrava do ex-namorado. Ela ouvia Just to be close to you, BSB, e lembrava de uma grande amiga da adolescencia. Ela ouvia Vertigo, U2, e logo vinha à sua mente os anos de caixa de loja.

Uma cena; uma música. Quase uma trilha sonora.

Assim eu vim. Uma nota musical me faz viajar pelas lembranças dela. Ainda tenho poucas genuinamente minhas, o que sei são coisas que ela viveu. As lembranças dela são minhas agora, assim como a vida dela toda pertence a mim. E aquela música no computador, com aquela letra, com aquele tom, com as notas, harmonias e instrumentos...

Foi uma dor de saudade de quem eu nunca tive. Pude fechar os olhos e ver...
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, e ao entrar no ônibus, debaixo daquele sol estalante do lado de fora, fechei a cortina da minha janela. Não me deixe ver isso, não os aguento. Fechei os olhos e deixei que as águas invadissem meus olhos. Quieta, quieta, quieta. Acordei tão longe dali, com os olhos doloridos, com a mochila meio caída. No mp3, O Teatro Mágico. Os opostos se distraem, os dispostos se atraem. Nada me deixou feliz, nem as gracinhas do papagaio do meu tio, nem o cachorro que brincava feliz entre nossas pernas. Nada me deixou descansar. Nem a pizza paga pelo tio ou a cama gostosa da prima e seu próprio pijama.
Esquecer não é perdoar. Seria capaz de faze-lo, mas nunca esquecerei o que passei. Se um dia eu tiver a oportunidade;
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O violino gritava umas notas agudas, e o palhaço gritava a celebração. Celebração de quê???? Não consegui entender a dor, a necessidade da distância, a saudade das lembranças... E eu lhe prometera que não tocaria mais neste assunto, já o fiz.
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...se lembrar de celebrar muito mais... a porta aberta, o porto, o acaso, o caos, o cais... a poesia prevalece... a paz... a ciência... não acomodar o que me incomoda... laralarala... laralara...

domingo, 7 de setembro de 2008

Da solidão

Ela saberia explicar o que venho sentindo.
É tão confuso ver as pessoas indo embora. Mais ou menos o que ela viu até antes de morrer. Ela nunca soube lidar com perdas, e caiu no poço. Esse poço era tão fundo, que demorou muito tempo para ela conseguir enxergar a luz. E quando enxergou, viu uma porção de gente nova disposta a ajudá-la a tirar dali. Agora, essas pessoas que ajudaram-na a sair desse poço estão indo embora (ou já foram) também. E eu tenho medo de não saber lidar com perdas. Porque ela não soube. E por ela não saber, seus últimos meses foram cheios de amargura e saudade. É confuso você ter alguém ontem e não te-la mais hoje. Eu entendo a dor dela, hoje posso dizer que sim.
Certa vez, alguém a fez chorar. Nossa, isso faz alguns anos, mas ela era madura suficiente para chorar de saudade. Esse alguém não se foi para que ela chorasse, muito pelo contrário; esteve muito presente na vida dela. Causou-lhe tristeza. Deixou com que ela caisse no poço quase sem fundo. Fez com que ela se sentisse sozinha. Assim foi por alguns anos, até aprender a ser auto-suficiente.
(Por mais que sejamos fortes, sempre precisamos de pessoas)
E quando, definitivamente, aprendeu a ser sozinha, a andar com as próprias pernas, a viver da sua maneira (que foi passado para mim de herança após a sua morte - vocês já estão cansados de saber que nasci mais dura do que ela, vivo dizendo isso), a insegurança se instalou na minha vida.
As pessoas são capazes de dizer coisas. Essas coisas, por mais que sejam ditas por pessoas de grande confiança, devem ser ditas com cuidado. Ouvi coisas que me deixaram fraca e, pela primeira vez nesses 2 meses e meio de vida, senti medo. O mesmo medo que ela sentiu antes de se ver na mais profunda solidão.
O medo da insegurança agora me acompanha nos meus sonhos e nas minhas atitudes. Não sei mais como ser diferente.
Duas pessoas já se "foram" este ano, e fiquei com medo de uma terceira ou quarta. Talvez por serem importantes, ou por serem mais duas pessoas que se vão. Ainda não sei qual é o caso. O fato é que é muito estranho ter que conviver com idéias antigas, lembranças dela que me assombram agora.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Dos grandes dilemas (ou de alguém que sente)

Os dias costumam ser os mesmos quando se entra na rotina. As aulas são as mesmas. As pessoas são as mesmas. As leituras são as mesmas. Os beijos do namorado são do mesmo namorado. As piadas dos amigos são sempre as mesmas piadas dos mesmos amigos. A cama é a mesma. Os objetos. Tudo.
O que mais me irrita é que a faculdade ainda é a mesma. Nada muda. A opaca segunda-feira não me dá o ânimo de acordar as seis da manhã para sair. Os mesmos reis de Portugal. Os mesmos poetas africanos. A mesma cachorra idiota que late enquanto comemos. O mesmo cheiro de mofo da biblioteca. A mesma mesa. O mesmo livro.
Foi num ato de profuda fúria que cortei os cabelos. Os mesmos cabelos que eram dela, que me tiravam a identidade.
Mudar é difícil. Requer tempo, tática, muitas coisas. Depois de uma longa e triste conversa, é decidido que tudo vai mudar dentro de nós e eu fico sem saber como fazer. Não sei falar nem confiar.
Amar é uma questão de tempo.
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De alguém que sente para alguém que se foi (não é bem meu, talvez seja dela, não sei)
É estranho ver que está tudo tão diferente depois que se passaram alguns anos. A gente luta pelas coisas, sonha com elas. Mudamos nossos trajetos para que nos adaptassemos. É estranha a mesma rua. Ela é a mesma de alguns anos, mas tem algo de diferente nela. Assim como o lugar onde me encontro mais uma vez. Vendo daqui da janela, não reconheço quase nada do qiue já foi meu um dia. Talvez vagamente eu consiga te ver no final da rua escura, se eu forçar a vista mais um pouco. Posso até sentir seu pé chutando as costas da minha cadeira. É tudo tão irreconhecível que já nem sei aonde estou. Você não está aqui, e por mais que já tenha passado um tempo, ainda sinto você, como se nunca tivesse ido. E é tão estranho para mim não ter você por perto, assim como a rua escura está tão igual ao que sempre foi.
Tudo mudou, sim, isso é notável. Onde nós nos conhecemos não existe mais. Muitas paredes foram levantadas, mantém-se as mesmas cores da parede, mas está diferente. Não é como daquela vez.
Daquela mesma que eu estava diante da figura mais forte da minha vida. Ou arepresentação de uma eternidade que já se foi.
Isso, para mim, é estranho.
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A bioquímica que mais me diverte é meu processo hormonal. Mês passado estava eu em fúria pesada. Este mês estou serena, a ponto de chorar por um belo pássaro na janela. Isso é sinal que meu mês-aniversário tá chegando. São dois meses de vida, dois meses de morte. Ah, que singelo, sou capaz de chorar por isso, rs.

domingo, 17 de agosto de 2008

Do comportamento humano (ou a primeira night)

Ela sempre gostou de música, então, ela sempre quis que o pai dela deixasse sair para aquelas matines esquisitas que rolavam na Tijuca (quem se lembra do Terceiro Milênio ou da Raio de Sol, em 1999?). Depois dos 15 anos, ele passou a desistir de mante-la em casa e decidiu deixá-la ir. Desde então, ela foi treinando seu instinto observador. Gostou daquilo. Podia ficar horas e horas observando o comportamento humano dentro de uma boate; e levou essa observação para o mundo iluminado do lado de fora.

Eu, portanto, já nasci com o espírito de observação aguçadíssimo, já que foi uma das milhares de heranças que ela me deixou. E é legal você sentar em algum lugar e ver pessoas conversando, o jeito que elas têm de falar ou de se mexer. Sou capaz de reconhecer qualquer pessoa de longe só pelo seu jeito de andar ou de se vestir. Observo muito o comportamento humano e até que isso é muito divertido.

Ontem, algumas amigas dela me chamaram pra boate. Uma delas me via pela primeira vez e ficou impressionada de como eu estava bonita. Ouvi muito isso desde o dia em que nasci, muitos amigos dela disseram a mesma coisa, mas eu sempre achei que ela fosse muito bonita, já que, mesmo com aquele defeito que ela nao gostava muito de encontrar no espelho, conseguia fazer um relativo sucesso (talvez pela fita métrica maldita ou...ah, sim, assim como ela, também não gostei muito de ter pernas muito compridas e tronco forte; pareço uma ogra!).

O legal da boate, dependendo de qual boate você vai, são as pessoas. Ela, antes de morrer, ia muito a boates GLS e se divertia muito. Costumava ver travestis, bichinhas pão-com-ovo, lésbicas tímidas ou animadas, gays totalmente desinibidos na hora de dançar, coreografias bem feitas e muita gritaria e extase na hora que a rainha Madonna soltava seus primeiros acordes na pick-up do DJ. Divertido, bastante mesmo.

Nas boates hetero, o legal é analisar o comportamento das pessoas na sua relação caça-caçador. Ela já beijou alguns caras nessas boates, mas eu não seria louca, mesmo se ela não tivesse deixado um namorado para eu cuidar. Talvez por uma questão de nojo ou uma questão de opinião. Talvez até porque eu senti a mesma sensação que a lata de massa de tomate deve sentir na prateleira do supermercado. Não que todas as mulheres que vão para a boate sejam mercadorias, mas é assim que mais ou menos elas são tratadas. Isso me deixa nervosa. Mais nervosa ainda quando uma mulher aceita essa condição de ser uma lata de massa de tomate. Em dado momento da noite, na hora que começou a tocar umas batidas que eu já tinha ouvido em alguns lugares (umas coisas como eu vou pro baile de sainha/agora sou solteira e ninguém vai me segurar...) uma menina que estava dançando ali perto de mim se empolgou de tal forma que arrancou a parte de cima do macacão e ficou dançando exatamente do jeito que vocês devem ter imaginado. Foi nessa hora, como se o anunciante do mercado tivesse acabado de declarar promoção naquela prateleira, que centenas de marmanjos foram dançar a volta dela. As pessoas fazem sucesso com o que tem. Passada a empolgação, ela vestiu o macacão e foi para o outro lado da pista, quieta. Acho que a batida durou uma hora (nunca dancei tanto na minha vida, também, acho que é porque realmente eu só havia dançado uma vez, no ensaio do jazz O.O), e nessa uma hora, uns tres caras beijaram a boca da garota. Um exercício linguístico curioso e cansativo.

Os caras bebem (e bastante) para conseguirem chegar numa mulher. Não sei para que tanto, se chegar numa mulher me parece tão fácil, basta você saber como chegar nesta mulher. Acredito que uma questão de observação faz com que você entenda mais ou menos o perfil do seu enlatado de massa de tomate. Gosta de dançar tal música, fala de tal maneira, ri de tal forma... E os caras sentem medo de perder tempo de chegar junto e tentam pegar, de qualquer jeito, a primeira lata que ver pela frente, de qualquer jeito. Alguns gostam de perder esse tempo fitando, estudando e...bebendo. O garoto não parava de comprar garrafinhas de cerveja para o amigo. A garrafa acabava e o garoto saia correndo para comprar mais. Às vezes, o garoto cutucava o amigo e apontava para a nossa direção, e ele apenas fazia um gesto com a cabeça. Eu sabia do interesse do amigo do rapaz. E o interesse estava na nossa roda.

Acaso ou coincidencia, uma das amigas dela me confessou que o tal menino que bebia e bebia parecia interessante. Disso eu já sabia, mas...será que poderia rolar um oi, tudo bem ainda naquela noite? Era engraçado o jeito que ele se aproximava dela sem que ela o visse. Eu ria. Rodava a roda de amigos onde dançávamos. Queria ajudar o rapaz.

Bonito, sim. Para a opinião da minha amiga, é claro (sim, minha porque estou aqui com a função de ser amiga dos amigos dela, eles não sabem que ela morreu, ainda). ele dançava atrás dela, eu dava um jeito de ela perceber, mas acho que ela estava muito entretida com a batida da boa música da boate. E quanto mais o tempo passava, mais eu me perguntava se ia acontecer mesmo, e mais ela (inabalável) continuava daquele jeito plácido de to nem ai (adoro), mas eu sabia que lá dentro dela a pergunta martelava. O amigo do garoto cutucou diversas vezes entre uma busca de bebida e outra. Éramos todos espectadores de uma situação que poderia ou não acontecer.

Nesse momento, os caras em geral estavam com a cara cheia de álcool, puxando as meninas de forma brutas e algumas - a maioria - cedendo, por medo ou por vontade ou por seiláoque. Alguns já faziam passinhos coreografados (provavelmente frequentadores assíduos de bailes, já me falaram sobre esses eventos...), outros comemoravam aniversários. A figura da boate se modificava com o passar das horas; alguns iam embora, outros paravam de dançar, muitos se arranjavam com suas massas de tomate. Minha amkiga já havia deixado de ser massa de tomate desde o momento em que a demora passou ser longa; ele estava estudando a melhor hora e ela continuava plácida.

Foi quando ele resolveu respirar fundo todas as coragens que havia ingerido e decidiu falar. Bonito, muito bonito. Talvez quis fazer da melhor forma ou simplesmente achava muito para ele. Todo o meu esforço havia sido de valia para eles. Pareciam diferentes. Pareciam tão iguais misturados àquelas tantas gentes em beijos e abraços. Momento da night em que todos se resolviam. Resolvi encostar meu corpo mal-acostumado na pilastra. Pessoas iam embora. Alguns ainda carregando suas meninas, outros suas latas de massa de tomate. Era como se exibíssemos para que eles vissem nossos atributos. Tudo que eu queria fazer naquela noite era dançar, e foi justamente isso que fiz. Ninguém mexeu comigo, talvez porque eu consegui passar a imagem de que eu não estava lá para isso. Muitas meninas não são de arrancar o macacão ou de usar o decote mais profundo da festa. É definitivamente gostoso caprichar uma maquiagem e escolher uma roupa bacana. Dá pra dançar vestindo-se assim? Quando não se sai à caça, costumamos não sair com cara de latas de massa de tomate, com aquelas cores vibrantes na cara e roupas chamativas. Quando a gente não espera nada, saímos do jeito que realmente somos. Minha saia jeans, minha bata preta, minha sandália rasteira. Assim, normal, do jeito que sou, sem querer que ninguém me perturbe.

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Eu estava pensando sobre o comportamento de quem namora e é tão complexo entender o que leva a fazermos com que não sintamos à vontade quando estamos sozinhas. Ao ver toda aquela gente se beijando e se pegando, por mais que eu tenha passado aquele dia fazendo o mesmo, bateu uma vontade de faze-lo naquele momento. É uma questão de gostos, e meu namorado não gosta. Gosto por uma questão de diversão alternativa (devemos, eu e ela, sermos as únicas desse mundo que gosta de boate para ver o comportamento das pessoas). Lá estava eu encostada na pilastra, vendo todas as pessoas se beijando. Questão de sentir inveja? Ah, não, não sei se me acostumaria com a vida de solteira que esse povo leva, mas sei lá. Acho que toda a minha vontade agora de isolar-me anda me confundindo os miolos.

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Dani, menina linda que vive acessando meu blog, esse post é pra você =P

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Da identidade

São pequenas coisas que eu fico me perguntando:"E se não pudéssemos fazê-lo?"
Hoje, na faculdade, sentei-me ao lado de alguém que eu já havia visto pelos corredores da Letras. Ele faz latim, é inteligentíssimo e muito participativo nas aulas. O tipo de cara que interage de verdade com o professor. Ele é cego, grava as aulas e salva no laptop que carrega pra cima e pra baixo.
Após duas horas de aula de literatura portuguesa, sai da sala com a mochila nas costas e ouvi a música que saia do novo bandejão da Letras . Ao chegar no corredor central, vi uma coisa muito bacana: os operários da obra do bandejão foram homenageados, havia um som pra galera curtir e muita gente comemorando uma conquista do CA pros alunos, super bonito. No pátio central, as árvores faziam uma sobra bonita do meio-dia, as pessoas se socializando, conversando, fumando seu baseado (não que eu ache isso bacana, mas era o que eu via, oras). Quando saí do prédio, aquela grama tão verde brilhando do sol, meninas conversando nos bancos da entrada da faculdade, a cachorra Pretinha se esfregando na grama por uma seção de coceirinha nas costas.
Tanta coisa bonita à nossa volta, uma ilha tão bonita onde estudamos (ah, claro, cercada de bosta por todos os lados, mas estamos numa ilha, e ela fica na Baía de Guanabara, acho que não há muita escapatória)...e se não pudéssemos ver nada disso? Como saberíamos se aquilo é belo, ou como imaginaríamos que o mundo é?
Tudo em nosso mundo gira em torno da imagem e esse cara que tive contato hoje não tem essa imagem que estamos tão acostumados a ter. A tecnologia dos óculos para quem pouco enxerga e aquelas cirurgias bacanas pra diminuir a miopia, são todas coisas tão desejadas pelas pessoas que pouco enxergam que, nós, que enxergamos relativamente bem, nem percebemos isso.
Meu primeiro mês de vida foi sem poder saborear as coisas gostosas que mamãe fazia na hora do jantar. Aquilo para mim era normal. Sopas são normais. Hoje eu não me contenho de alegria com um prato de...sei lá...frango com purê de batatas, coisa que qualquer um come a qualquer hora. Não tive essa oportunidade a vida toda, mas se eu não tivesse o direito de comer pra sempre? Tipo, nunca mais eu pudesse comer? Fiquei com medo de não sentir o prazer da comida...
Pessoas que não podem ouvir as mais belas músicas ou as mais melosas declarações de amor, por serem surdas...ou pessoas que não podem andar ou pegar coisas, ou pessoas que tenhal aguma característica que a impeçam de...
Gosto de saber que quem pode fazer as coisas mais normais da vida ajudam a quem não pode. E quando não podemos ajudar, eles sabem se virar. É bacana ver os ajustes da natureza...e os ajustes do homem também.
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Não entendo mais quem eu sou ou o que sou para outras pessoas. Sinto-me tão sem identidade, tão invisível, até para mim...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Das experiencias em geral

Aos poucos vou descobrindo as funções das coisas na minha recente vida. É curioso descobrir a intensidade dos sentidos e dos sentimentos, e curto senti-los. As dores, os amores, os prazeres. parece tudo tão encantador que não me dá vontande de perder as oportunidades que a vida me apresenta.
É encantador, por exemplo, sentir a pele ardendo de sol. O cheiro do creme para queimaduras me parece agradavel, sem contar a cor rosada, tal qual a minha barriga. Por conta dela, inclusive, sinto mais prazer em colocar roupas que ela tinha vergonha de colocar. Quando era com ela, as calças lhe apertavam as banhas. Minhas mãos ainda estão avermelhadas do sol e tenho agora uma marca nos ombros do biquini.

A dor da picada da vacina contra a rubéola foi apavorante. Entedi o pânico que ela sempre teve de agulhas e injeções, apesar de não fazer muito sentido. Michel pegou a minha mão e deixou com que eu a esmagasse enquanto o enfermeiro aplicava saúde no meu braço direito. Foi uma dor cheia de prazer, porque sei que essa dor me deixará com saúde no final.

O aperto da cólica arrepia todo meu abdome. Sinal do ciclo se refazendo dentro do meu corpo, sangue, fertilidade, sangue outra vez. O prazer de ser mulher, em todos os sentidos do prazer de ser mulher (como um forte abraço lhe tomando todo o corpo...uma profunda intimidade) é o meu preferido.

As aulas de português me tomaram numa abrupta vontade de expandir o conhecimento dos alunos. É apenas um aluno para português, um para história, mas é tudo que me dá realização (sinto que esta realização sera maior quando a biomedicina entrar na minha vida. E isso é algo tão real na minha imaginação...).

As pessoas me passam uma energia muito boa. Sei que elas não sabem que a mudança não foi só externa, mas logo elas perceberão. Eles dedicam um carinho muito grande à mim, como se eu ainda fosse ela. Ela vivia uma vida tranquila no presente em que ela se foi; amigos, faculdade pública, um namorado que a ama...É incrivel como ele é encantador, logo quando eu tinha um dia de nascida ele estava do meu lado dizendo o quanto eu estava mais bonita. Mais bonita comparado a quanto? Agora sou só eu, a partir daquele dia...é engraçado ser bonita para alguém quando see stá ainda meio feia. Foi uma alegria que só uma mulher, no sentido mais feminino, sabe como é...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Da primeira vez que comi

Fiquei me olhando por muito tempo no espelho outro dia. Devo ter pedido umas duas horas sentada de frente para o espelho do armário. Logo atras dele, podia ver as fotos dela. Um mural cheio de fotos dela e dos amigos que agora são meus. Tem uma foto, bem no meio do mural, dela. Acho que é a foto mais bonita que ela podia ter escolhido. Ela usava uma camiseta preta escrita UFRJ, a faculdade que vou estudar a partir de agosto (Letras. Literatura. Mais uma coisa que temos em comum, o fascínio pelas palavras, pela leitura...Apesar de que esse lance nunca foi a minha praia, e, quer saber? Nem a dela...). Olhei aquela foto, olhei pra mim no espelho...Foto-espelho-foto-espelho... Minha mãe, então, me chamou pra tomar mais uma de suas sopas.
Nossa, aquelas sopas tão gostosas e tão cansativas...Não me satisfazem, nao me deixam bem, enfim...Tudo que elas conseguem provocar é aquela sensação de engano no estomago que...começou a doer agora!

Já sabia das crises de dor de estomago dela, gastrite crônica. Ouvi minha mãe falando, entre Coca-Colas, Buscopans, Atroverans e Mylantas que era falta de comida de verdade. Entre tantos remédios e dores, acabei dormindo.
Acabei sonhando com o dia em que aquela foto do mural foi tirada. Era um dia de festa, aniversários de um dos amigos dela. Tinha um bolo e alguns quitutinhos pra beliscar. Neste dia, foram tiradas muitas fotos. Neste dia, como nos outros, ela comeu os quitutinhos, o pedaço de bolo, talvez um sanduíche lá pela faculdade pra encarar uma tarde de biblioteca...
Acordei com fome e mais dor no dia seguinte. Como todas as noites, sonhei com pães e bolos, pedaços suculentos de carne vermelha, frango, camarão. Levantei da cama com a sensação de que tinha um boi no meu estômago. A dor me acompanhou durante aquele e o dia seguinte. Na mesa da sala, pães, almoços robustos, cachorros-quentes no jantar. Não era só a dor...
Fome!
Num ato de revolta, depois de passar mais alguns momentos (não sei ao certo quanto tempo fiquei) na frente do espelho do armário, e depois de olhar mais diversas vezes para a foto dela no mural, arranquei tudo aquilo que me impedia de comer. E dessa vez, ia colocar uma colher na boca.

Foi nesse momento que tive uma relação muito íntima com um órgão que eu ainda não conhecia: a minha língua. Depois da primeira linguada para o meu reflexo no espelho, passou a ser uma grande diversão ver até quanto minha língua podia se esticar sem eu sentir a nova articulação. Esticaesticaestica e puxa! E eu pude ver que a minha língua é rosa, assim como todas as línguas de todas as pessoas. E eu passei a ver o quanto eu podia abriri a boca sem sentir a nova articulação. Abria e fechava, primeiro muito timidamente e depois super a vontade. Posso colocar uma colher, que seja, dentro da minha boca.
Foi hoje que paguei um almoço para o Michel no shopping. Escolhi o restaurante, o que eu a comer. Olhei pra colher, estranhei...nem sabia como se usava. Aquele pedaço de plástico me chamou atenção por um tempo, quando meus olhos fitaram outra cena: a do Michel usando a mesma colher para mergulhar no strogonoff e trazer cheia de creme de leite e pedaços de carne até a boca. Tentei fazer o mesmo. Enfiei a colher naquele batatão enorme e ela veio cheia de creme de queijo e alguns pedaços de batata. Nossa, como eu vou socar tudo isso dentro da boca? Nas mesas que nos cercavam, todos faziam o mesmo movimento (alguns seguravam aqueles sanduíches gigantes do McDonalds com guardanapos e enfiavam quase todos boca adentro, e senti minha boca querendo fazer o mesmo movimento): colher no prato ou na batata, colher cheia de comida, colher na boca, colher limpa.
Tentei imitá-los. Primeira tentativa: metade do queijo caiu de volta na batata. Segunda tentativa: metade do pedaço da batata caiu de volta na batata. Terceira tentativa: a outra metade que sobrara na colher caiu da minha boca, mas na bandeja.
Ah, que desespero! Pessoas poderão me apontar na rua! Uma mulher de 23 anos que não sabe comer! Mas peraí...Eu realmente não sabia como comer de colher! Sei manusear um canudo como ninguém numa sopa de legumes, mas uma colher? Ah, por favor, que negócio mais esquisito!
Foi de raiva que soquei o pedaço de batata na boca. E outro. Mais outro. E outro. Huuuum. Quero mais. Nossa, isso é mto louco. Mais outro. Barriguinha cheia.
Pude sentir o estomago sorrindo. É engraçado, mas ele tem uma vida além da minha. Ele reclama de fome e de dor. Aliás, meu estomago é um ranzinza de primeira!
Dali para outros pratos, outros quitutinhos, não vai demorar tanto. Nacser de novo é complicado. Ataptar a uma vida que existia quando você ainda não era você é muito complicado. Acho que só eu sei que eu não sou ela. Não, não sou. Mas isso é segredo.
(Ah, a dor? Passou! Nada que um pouco de comida propiamente dita, não acham? Agora tenho que voltar ao espelho, estou descobrindo coisas interessantíssimas sobre mim)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Do anjo mais velho ou da declaração de amor

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
tua palavra, tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
metade de mim
agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
e o fim é belo incerto... depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
O Teatro Mágico
Tenho certeza que ela sentiria a sua falta...

domingo, 20 de julho de 2008

Do vago

Ouvindo músicas, trancada no meu quarto...Sentindo ainda o gosto da sopa de legumes, o que me faz lembrar que nascer dá um trabalho danado no primeiro mês.
Estava lendo agora o que ela escrevia antes de morrer. É incrível nossa afinidade, talvez por termos pertencido ao mesmo corpo. Ela era apenas ela; eu estava ainda mergulhada em seus sonhos de um dia ser. Pude compreender cada letra de cada texto, mas não como se tivesse passado comigo. Na verdade, é difícil ser.
Como fazer com que a pessoa que eu amo incondicionalmente volte para mim?
Li essa frase e juro que ela ficou sobrevoando minha cabeça um tempo. Voltar...pra quem? As lembranças andam ficando cada vez mais vagas, às vezes, pouco me lembro do que acontecia com ela, como se eu tivesse visto um filme há muito tempo. Sim, é confuso e complicado, mas tenta nascer quando sua vida está pronta? É difícil ser! E está sendo.
Hoje vi alguém que não fazia mais parte da vida dela desde antes de ela morrer. Lembrei-me deste alguém porque sei que este alguém fez uma participação muito forte na vida dela. Não do jeito que ele quis, mas fez. E pouco soube ele da diferença que ele causou na vida dela. Na minha, pouco faria: como disse, nasci com a minha vida pronta. O que estranhei foi a pontada que senti no meu coração. Não entendo porque pessoas se vão, e essa questão eu compartilhei com ela antes de trocarmos de lugar nessa vida errante. Ela perdeu muita gente e sofreu pela maioria dessas perdas. A pessoa que eu encontrei hoje não causou nela o sofrimento propriamente dito, mas, sim, indignação e revolta. Não foi isso que senti. Na verdade, senti um incomodo muito profundo de dividir o mesmo espaço com alguém que não foi autêntico por muito tempo com ela. Tomei suas dores, senti vontade de gritar de incomodação. O que sei é que eu estava certa em não fazer a desentendida do contexto histórico. Ninguém é obrigado a perdoar, nem ela se sentiu nessa obrigação.
Ela não perdoou e morreu devendo essa a outra pessoa. Quando ela se foi, tudo que ela queria era um abraço sincero, algumas lágrimas, dizer que perdoaria, que queria que tudo fosse normal. Estava nos seus planos para mim esta pessoa na minha vida. Não aconteceu. Ela tentou, sabendo que não era dever dela. Sinto pena de todas as coisas que ela tentou fazer. Em uma coisa temos em comum: o orgulho. Talvez ela não tenha sido bem interpretada ou sei lá. Só sei que esta pessoa não está na minha vida. Sei que esta pessoa faria muita falta na vida dela, mas eu não posso sentir falta de quem nunca fez parte da minha.
É confuso para mim entender o ir e vir das pessoas. Não consigo vê-las como bases sólidas, isso é muito difícil. Quero fazer diferente do que ela fez agora. Quero cortar os laços do passado, os laços que magoaram. Não quero que ferimentos dela venham me incomodar. Vim para mudar a vida que ela fez, não o passado, mas o futuro. Vim dar ordem nas coisas simples da vida. Vim deixá-las mais simples.
(Na verdade, nem era pra escrever hoje. To devendo um texto a um amigo meu sobre como é a sensação de comer. Dizem que é ótima, estou louca pra experimentar!)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Do espelho

Hoje acordei cedo, ainda com cara de sono. Minha miopia fica mais evidente assim que acordo. Cadê o celular, cadê o botão do relógio, cadê o chão...É justamente nessa hora que eu me olhava no espelho e me assustava.

Lembro-me da última vez que ela se olhou no espelho. Ela ainda estava no hospital, à espera dos médicos e da anestesia. Ela não parava de falar, já que a pilha estava cheia de nervos. Circulava pelo quarto, pela varanda, sentou-se no sofá, na cama, na cadeira, tirou tudo do lugar, foi ao banheiro. Ao se olhar, sabia que seria a última vez. Ficou mais tensa e calou-se. Olhou-se profundamente dentro dos próprios olhos refletidos e percebeu algumas coisas. Seus olhos, algumas vezes, ficavam azuis como os do avô. Os olhos do avô eram azuis tão profundos e tão escuros que todos tinham dúvidas sobre a cor de seus olhos: pretos ou azuis? Naquele momento, seus olhos estavam azuis muito escuros. Ali, ela se perguntou qual era a cor de seus olhos...Sabia que aquilo realmente não importava. Ela morreria em algumas horas e estava um tanto quanto tensa e feliz. Uma vida que começa, ou que se encerra.

Muito fez naqueles 23 anos de vida. Amou muito, sentiu muito, sofreu muito, batalhou muito. Tudo que colocava a mão fazia questão de trabalhar de verdade. Foi caixa de loja por 2 anos. Tentou vestibular por 4 anos. Amou e sofreu por quase 4 anos. Perdeu e ganhou amigos. Viu parentes indo embora, não da forma que ela ia naquele dia. Suspirou. Ela a última vez que se via no espelho.

Hoje, ao tentar fazer com que meus pés encontrassem o caminho para o banheiro, eis que me olho no espelho. Os mesmos olhos que, algumas vezes, podem ficar azuis. O mesmo nariz redondo e pequeno, que difere de todos da familia. Os mesmos cabelos compridos. O susto de se ver completamente diferente dela me marca todas as manhãs. Tenho a responsabilidade de tomar a vida dela, a família dela, os amigos dela, a faculdade dela, o namorado dela, o blog dela, a casa dela, os sonhos dela e transformá-los. Nós duas sempre soubemos que, para ela, o marco final de sua jornada seria traçado naquele hospital. Para mim, o início da minha jornada seria traçado assim que eu saísse do hospital. Duas pessoas iguais, num rosto modificado, numa vida prestes a mudar. Atitudes repensadas, erros corrigidos, aprendizados.

A humana, que nasceu para cometer erros, não cometerá os mesmos erros. Sou humana, diferente dela, mas agora (re)nasceu para consertar os erros.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Da nova Pat

Não foi só um rosto que mudou. Saí do hospital com esparadrapos na cara e idéias novas na cabeça. Não dá pra seguir em frente com as pendencias que carrego da vida antiga. Sei que desta vez eu renasci, tenho outra fisionomia, mas meu olhar está mais baixo.
Andei muito amolecida nessa vida, acho que a vida é dura demais para ser amolecido. As pessoas sao duras. Muito acabamos fazendo por gente que pouco faz por nós.
O que merecemos? Por que as coisas terminam de forma tão estranha?
Não sinto tanta paciencia para escrever, nem pra falar. Por conta dos ferros que amarram minha boca, falo cada vez menos. Acabo me comunicando pelo olhar. Estou mais expressiva do que antes, mas intensa. Quero ser assim, gostei da nova Pat.
Quero ser mais dura, por favor.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Da grande necessidade

Hoje não vou falar nada. Quem vai falar por mim é a Katia. Não é um texto reflexivo ou filosófico. Na verdade é apenas meu agradecimento ao apoio que ando recebendo de uma das melhores pessoas que ainda moram na minha vida. A Katia é amiga de longa data, daquelas que eu não contava com tanta afinidade e carinho. São 8 anos juntas, conhecendo cada centímetro uma da outra e sabe exatamente onde dói. Quando ela escreveu isso pra mim, ela sabia onde doia e onde não doia. Não precisei dizer a ela; ela sabe.
Amigos são assim: eles erram e tentam se desculpar. Eles cuidam e te dão valor. Eles amam e fazem questão de mostrar que amam. Assim sou com eles: eu erro e tento me desculpar. Eu cuido e tento dar muito valor a eles. Eu amo e faço questão de amar e de mostrar isso.
Quero também agradecer todo o apoio das pessoas. Sei que vai dar tudo certo, e vocês adoram concordar comigo ^^


E sobre a sra, Dona Pat, tenho umas coisinhas pra fazer vc pensar:
1 - Eu sei que a coisa é muito mais difícil qdo acontece com a gente, vc nunca vai estar preparada, por isso, não perca nem o seu tempo tentando estar, se preocupando, se remoendo e descabelando, vc não vai estar preparada, então, simplesmente aceite e encare, vai acontecer, não tem jeito e se o mal é inevitável, relaxe goze. E vc deve estar se perguntando e o que pode haver de prazeroso nisso pra eu gozar? (tá meio pornográfico isso, mas se for capaz de te arrancar um sorriso, já me deixa contente) Já te explico, antes....
2 - Minimize as coisas ruins dando mais valor as boas. Nós temos a tendência a aumentar as coisas ruins na esperança de estarmos preparados pro que quer que possa acontecer. Besteira! já te disse, vc nunca estará preparada.

E não estará preparada pq ninguém tem a capacidade de prever o futuro. E o futuro é sempre uma surpresa. Podemos ter algumas intuições, e se vc quer saber, tenho uma boa intuição sobre a sua cirurgia, de verdade, eu estou até animada qto a isso, pq minha intuição não é boa no sentido, vai correr tudo bem, mais que isso, acho que vc vai ficar mesmo é muito satisfeita com o trabalho e consigo mesma por ter encarado, eu sei que isso tudo vai te fazer muito bem.E isso tem a ver com a parte boa de que falei.Vc está nas mãos dos melhores cirurgiões dentistas do Rio, graças a Deus seus pais tem condições de pagar plano de saúde pra vc e vc receberá toda a assistência. Vc vai sair mais bonita disso tudo, com um sorriso mais bonito e mesmo séria, vai ficar com um rostinho mais delicado, mais charmoso. Vc vai estar de folga uns dias, com toda a mordomia e todo o carinho de parentes e amigos do seu lado, todo mundo te paparicando (essa oportunidade é muito boa e rara, aproveite!).

Seu namorado vai ficar te achando ainda mais gostosa depois disso tudo, imagina só, uma mulher forte e decidida, que superou um desafio e que voltou ainda mais bonita pras mãos deles. Sem falar no tempo de abstinência que vai dar uma temperada no relacionamento depois que vc puder voltar as suas atividades rotineiras...Imagina a moral que vc vai ter com seus amigos depois tb.... e na faculdade! todo mundo vai te ajudar no que puder e no que não puder pra vc não precisar perder nada.E qdo tudo terminar vc vai poder voltar com todo gás pras aulas, pra trabalhar, sem precisar parar pra mais nada. E com uma fome, uma vontade insasiável de vencer, pq depois de passar por isso, nada mais pode te deter.Olha só qta coisa boa!E aí vc vai dizer que tudo isso tem um preço. E tá certa, tem um preço mesmo.E vc quer saber, na real, qto custa?

Custa algumas horinhas desacordada, não sentindo absolutamente nada, enqto grandes médicos trabalham pra te deixar linda e saudável. Imagina só, vc vai poder mastigar com toda a facilidade de novo, sem forçar seu maxilar e sem desgastar as juntas, o que poderia te causar sérias complicações na velhice!Aí vc vai dizer, é mas e o pós operatório? Amiga, vc vai dormir que é uma beleza, vai estar tão pra lá de Bagdá que não vai nem saber o que é esse tal de pós operatório, vai lembrar de quase nada depois.E ainda resta o argumento.... mas e eu? será que depois vou me reconhecer diante do espelho? e se eu não gostar do que eu vir?Olha só, vc não vai gostar do que vc vai ver não, vc va adorar! vc vai ver mais do que seu sorriso corrigido, vc vai ver uma mulher mais forte e um visual mais sereno, mais calmo, uma marquinha ou outra que vai sair com o tempo, pq vc é nova e ainda tem muito colágeno. E tem mais vc terá o visual que vc escolheu ter, dá pra uma pessoa ser mais autêntica que isso?

E o tempo que vc passará tomando coisas de canudinho? ah, vc vai ver como é pratico.... suas refeições não durarão nem meia-hora e vc terá mais tempo pra dormir (acredite, vc vai dormir loucamente e vai nem ver o tempo passar), pra ver tv, pra ler um livro, pra ouvir a gente falando merda.Vc vai voltar mais magra, pensa só, mais elegante, mais bonita, praticamente pronta para as passarelas da vida. Depois só vai receber elogios.Olha como tudo é rabatível. Percebe como tudo tem um lado positivo? então pra que realçar o negativo? já disse, não adianta, não é isso que vai te deixar preparada.

Ah mas e os riscos? ah, pode acontecer isso ou aquilo durante a cirurgia né, e aí babou Patrícia. Amiga, vc mora ao lado da praça da bandeira, qtos atrpoelamentos vc vê por dia? tanta coisa pode acontecer contigo nessa vida, que nem dentro de casa vc estará protegida. Não se apegue a isso, pq é mais fácil vc ser atropelada no caminho pra facul ou ser pega por uma bala perdida do que dar alguma merda incorrigível nessa cirurgia, principalmente pq os médicos estão equipados, atentos e concentrados pra te proteger do que puder te acontecer. Lembrando, de novo, são excelentes dentistas. E, portanto, isso é problema deles, vc estará apagada e não há nada que possa fazer, isso é problema deles pq é trabalho deles e eles estudam muito pra isso, não farão feio, te garanto.

Enfim, não estou dizendo que vc não possa estar ansiosa, pode sim, mas não fique preocupada. Pode ficar sensível, mas não fique alarmista, não perca seu bom humor, pq de verdade, bom-humor e energia positiva, tal qual pensamentos positivos são as melhores coisas que vc pode fazer por vc mesma pra se proteger. Tenha fé na vida, nos médicos, na sua saúde, em Deus, nos amigos, na sua família. Tudo isso é o que vai fazer dar certo, é nisso que vc deve gastar seus pensamentos, sua energia e seu tempo. O resto, é perda e vc não quer perder. Eu estou aqui pra se a energia baixar, pode contar comigo, minha fé não vai te perder de vista um minuto e vai ser tão forte que vc não vai estar sozinha momento algum. E nem adianta vir com mais argumentos pq eu quebro todos. Vai dar tudo certo! E sim, é com vc, com vc mesma, trate-se de se entender consigo mesma, pq não vem com essa de que eu não merecia isso. Merecia sim, pq vai te fazer bem e vc quer o melhor pra vc, ainda que seja entrando na faca.

Vc está tendo uma oportunidade que muitos não tiveram, vc conhece o tamanho da lista e mais, imaginem qtos nomes nem estão naquela lista.Sim, amiga, é com vc mesma, não é pra ter pena não, é motivo de alegria, pq vc está tendo o melhor. Vai sair disso muito melhor. Pois é, aconteceu com vc e que bom! pq vc está tendo oportunidade de corrigir e dar a volta por cima.Xô baixo astral hein!Quero te ver feliz!Feliz e esperançosa! E isso é só o começo, ainda não é nenhum parto..... hahahaImagina qdo for! Aí sim te dou todo o direito de ficar com medo, pq aí sim haverá vidas em jogo...rs

bjos superpoderosos!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Dos pensamentos brutos

Já era a quarta noite que acordava no meio da madrugada para ir ao banheiro. Sabia que aquilo não era um aperto qualquer, pois desde pequena tem ataques urinários de madrugada quando está frente a um momento de tensão. E, na verdade, amanhã a vida dela mudará de forma muito abrupta.
Não era bem nisso que ela pensava antes de pegar no sono leve e cansado, mas, sim, nas coisas que aconteceram desde o início desafio de uma nova fase na vida. Já se via adulta, pensava por conta própria, sabia tomar as próprias decisões. Sabia exatamente sobre seu ambiente de trabalho e como agirá daqui a alguns anos, com o diploma na mão. Sabia dizer sim ou não no momento que melhor lhe conviesse, e já fazia algum tempo que havia descoberto o amor e o ódio. Sentia que, em alguns momentos, podia voltar a ser criança, no modo mais pejorativo que existe. Na verdade, tinha muito medo de se ver sozinha. Ou de pensar sobre a morte. Há alguns dias ela se perguntava muito sobre sua funçao na terra, e alguns filmes que vira nos últimos momentos fizeram-na se perguntar sobre essa questão cada vez mais. Ela podia morrer amanhã.
E com a morte tão próxima à sua realidade, o que teria ela feito de bom para quem ficasse? Será que ela conseguiu deixar a mensagem que ela tanto buscou passar, ou apenas fez diferença na vida de alguém? Teria ela conseguido dizer a todos o quanto ela os amava? Teria ela dado o valor necessário a cada coisa que fizera?
Lembrou-se das últimas brigas que tivera com pessoas próximas. Faz cinco anos que não fala com o pai da maneira que gostaria. Moram na mesma casa, dividem o mesmo conteúdo da panela na hora do jantar. Não se falam. Nunca mais tentaram falar-se. Ficou nisso. O quanto admirou o pai em silêncio nas suas grandes conquistas e premios nos últimos cinco anos. O quanto achava incrivel o fato de ele saber tantas coisas, e ser alguém que todos confiavam. Não se falam, e ela nada fez para a situação mudar. Acostumou-se com o silêncio. Ás vezes, tem a impressão de que ele desistiu de gostar dela.
Em poucos meses, seu círculo de amizade se transformara. Um milhão de amigos que sabiam faze-la rir, mas apenas um sabia acolher em sua dor. Este um não estava mais consigo para acolher essa dor que lhe matava o peito. Estava ali, ela, apagando a luz do quarto para voltar a dormir e toda a sua dor sempre a levava ao banheiro nas mesmas 4 horas da madrugada. Não sabia em quem poderia confiar essa dor, como se esta fosse um pão amargo que teria, agora, que tragar sozinha. Não sabia em quem confiar. Pobre namorado, que tanto tenta mostrar-lhe alguém confiável e interessado, mas que não é bem sucedido! Ela não sabe mais para onde correr, e fazia um tempo que sentia cada vez mais prazer em deitar na cama e admirar as estrelas florescentes do seu quarto apagado. Não fazia mais isso, a vida adulta havia lhe tomado todo o tempo que tinha para pensar sobre si, sobre suas atitudes e opiniões.
Fazia um tempo que mal sabia quem era ela mesma, quantos anos tinha (certa vez, ao perguntarem sua idade, teve que fazer as contas...2008-1984...?); mal sabia o que queria no futuro. Pouco pensava no quanto amava sua mãe, seu irmão, o seu namorado. Quase não conseguia dizer a eles o quanto ela os amava. Seus amigos ficavam pelos corredores da faculdade, entre mil ois e tchaus que saia distribuindo por ai sem saber direito com quem falava. Pensava em trabalhos de grupo, provas, livros da biblioteca. Radiografias, obturações, anestesias. Não sabia mais quem era ela mesma.
Os pensamentos brutos invadem-lhe a cabeça, às 4 horas da madrugada. Vontade de matar, de morrer. Deixar todas as lembranças do passado fugirem da cabeça atormentada com tantos choques. Queria gritar com o mundo, morrer de berrar com a vida. Dizer o quão medíocre era tudo aquilo, toda a sua genética, toda a sua vida. Nascer assim, tão cheia de peculiaridades.
Se a gente vive para morrer, por que haveríamos nós de vivermos?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Do amor

Ando meio sensível. Irritantemente sensível.
É como se as luzes escurecessem e o quarto virasse um breu tão profundo quanto a morte. Sinto, às vezes, ela tão perto de mim que sinto, do nada, sem motivo algum, vontade de chorar baixinho.
Às vezes, quando estou em casa, consigo ouvir os murmúros do passado. Talvez até do presente. Na verdade, consigo ouvir pensamentos. Vida boa seria se eu estivesse aceitando o lugar onde meu corpo se encontra, mas essa não é a verdade.
Tudo que quero é sentir meu corpo se esvaindo de mim.
***
Carta 1
Por favor, tudo que lhe peço é um pouco de olhar. Um olhar diferente sobre mim e sobre o que seremos no futuro. Que todo esse amor um pelo outro seja assim, desse jeito, até o fim deste. E quando o fim chegar, quero a distancia de um sofrimento desnecessário de sentir.
Por favor, tudo que lhe peço é que não seja como ele.
***
Carta 2
Espero que lembres um dia de toda a questão que fiz por ti. Espero que lembres um dia que eu fiz a minha parte, mais do que deveria e do que merecias. Espero que saibas um dia o quanto sentí tua falta, pois hoje aprendí a não sentir mais nada. Já sei a pouca questão que fazes, camuflada num medo que talvez não exista. Espero que saibas o quão tento não falar demais.
***
Carta 3
As pessoas são o que elas viveram um dia. Tudo que tenho a fazer é agradecer a você por me ensinar a ser a pessoa que sou. Isso não é uma declaração de amor, mas de libertação.
***
Ao gato
Gatinho que chega nos meus pés e se esfrega todo, porque escolheste a mim para se esfregar?
Obrigada por me arrancar um sorriso...
***
As coisas vêm vindo e eu não sei mais pará-las. Tudo que eu quero é que elas não venham mais.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Da segunda-feira

O relógio marca 23:59. Tristeza.
É tão clássico dizer que a segunda-feira é ruim, que ninguém merece a segunda-feira, mas pra mim é muito mais do que isso. Acho que a síndrome de Garfield me atacou outra vez. Ou seriam os resquicios da depressão que deixei pra trás sem tratamento algum?
A semana é cada vez mais pesada e estressante: tudo me persegue a semana toda. Todas as provas, todos os problemas, todas as pessoas. Pouco durmo, pouco como, pouco sorrio. É difícil me ver feliz numa quarta-feira ensolarada, e não há borboleta amarela naquela ilha de Lost-Fundão que me faça persegui-la. Para mim, todas elas são marimbondos.
Nem tanto a magia da genética das quintas-feiras, ou das análises do discurso de terças me fazem feliz. O onibus em alta velocidade, rumo à minha casa, não me deixa aliviada. Meus olhos não se fecham mais com gosto e prazer numa acabada noite de segunda-feira. Não. Tudo que sei fazer e pensar é no quanto de coisa que eu tenho que resolver, no quanto de coisa que eu tenho que conversar com colegas e professores, no quanto de exame que eu tenho que fazer para a cirurgia que nunca vem.
(Quanto a ela, sinto-me como uma criança a espera do seu Papai Noel na noite de Natal. Não adianta, ele nunca virá)
A segunda-feira pesada, a terça-feira indesejada, a quarta-feira cansativa, a loooooooooooooooooonga quinta-feira e a rendiçao de sexta-feira. As semanas se arrastam cada vez mais, como se eu tivesse perdida num Saara sem fim, sem agua, sem nada. O sol forte em minha cabeça, o cheiro de merda nas narinas. O barro molhado na sandalia nova, a picada de marimbondo no meio da prova de Latim. O sono caído entre as folhas de português, este mesmo que me amaldiçoou com 6 semestres de castigo e atraso. A abelha entre os salgados à venda. A lacraia que quase queima meus dedos dos pés. Os inúmeros Aedes que circundam as poças de barro, à procura de carne humana e suculenta. Os filmes malditos do cinema novo às sete da manhã de uma quinta-feira de frio. Três horas de neurulação ininterruptas, nada divertido. Mil declinações latinas, mil símbolos do alfabeto fonético, mil letras do alfabeto grego, mil definiçoes literárias, mil histórias do Brasil, mil células e neuronios e ovócitos e epsermatozóides...
A loucura pede um arrego final na libertação do final de semana. E enquanto sou acalentada pelos beijos de namorado, e enquanto sinto a música entrar em meus ouvidos, enquanto acho graça de meus amigos, enquanto eu tent sentir a mim mesma, a minha cama, o meu corpo, as minhas coisas, elas vêem. Todas as mil declinações e fonéticas e gregas e latinas e cinemas novos e imagens no discurso e questõs literárias e...
Não existe um momento de descanso. O fim de semana acaba tão rápido que não senti meu tempo de sentir. Não sei mais o que é se entregar a alguém na solidão de um quarto, não sei mais o que é o corpo relaxado numa cama macia, não sei mais o que é rir sem olhar para o relógio e fazer as contas: faltam quantos minutos para a segunda-feira? E resolver as tantas mil coisas?
Por que esse circulo vicioso de stress e rotina podem matar uma vida?
Canso, demais, de viver.