domingo, 7 de setembro de 2008

Da solidão

Ela saberia explicar o que venho sentindo.
É tão confuso ver as pessoas indo embora. Mais ou menos o que ela viu até antes de morrer. Ela nunca soube lidar com perdas, e caiu no poço. Esse poço era tão fundo, que demorou muito tempo para ela conseguir enxergar a luz. E quando enxergou, viu uma porção de gente nova disposta a ajudá-la a tirar dali. Agora, essas pessoas que ajudaram-na a sair desse poço estão indo embora (ou já foram) também. E eu tenho medo de não saber lidar com perdas. Porque ela não soube. E por ela não saber, seus últimos meses foram cheios de amargura e saudade. É confuso você ter alguém ontem e não te-la mais hoje. Eu entendo a dor dela, hoje posso dizer que sim.
Certa vez, alguém a fez chorar. Nossa, isso faz alguns anos, mas ela era madura suficiente para chorar de saudade. Esse alguém não se foi para que ela chorasse, muito pelo contrário; esteve muito presente na vida dela. Causou-lhe tristeza. Deixou com que ela caisse no poço quase sem fundo. Fez com que ela se sentisse sozinha. Assim foi por alguns anos, até aprender a ser auto-suficiente.
(Por mais que sejamos fortes, sempre precisamos de pessoas)
E quando, definitivamente, aprendeu a ser sozinha, a andar com as próprias pernas, a viver da sua maneira (que foi passado para mim de herança após a sua morte - vocês já estão cansados de saber que nasci mais dura do que ela, vivo dizendo isso), a insegurança se instalou na minha vida.
As pessoas são capazes de dizer coisas. Essas coisas, por mais que sejam ditas por pessoas de grande confiança, devem ser ditas com cuidado. Ouvi coisas que me deixaram fraca e, pela primeira vez nesses 2 meses e meio de vida, senti medo. O mesmo medo que ela sentiu antes de se ver na mais profunda solidão.
O medo da insegurança agora me acompanha nos meus sonhos e nas minhas atitudes. Não sei mais como ser diferente.
Duas pessoas já se "foram" este ano, e fiquei com medo de uma terceira ou quarta. Talvez por serem importantes, ou por serem mais duas pessoas que se vão. Ainda não sei qual é o caso. O fato é que é muito estranho ter que conviver com idéias antigas, lembranças dela que me assombram agora.

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