terça-feira, 29 de abril de 2008

A carta - regurgitando

Sentada à escrivaninha do seu quarto, aos milhões de bolas de papel, todas com rabiscos profundos. Enormes pilhas de chocolate diminuiam de tamanho; aumentara três quilos após aquela maldita crise. Ela já não sabia mais o que fazer, o que dizer, e seus sonhos profundos lhe consomiam a cada noite. A arte de silenciar-se em seu quarto não era mais suficiente e tudo que ela queria era gritar, dizer aos berros o quanto odeia e sente falta...
Em seus rabiscos, não consegue expressar o grito de dor...
"...do fundo do meu coração..."
Porque é do fundo mesmo. Aquela dor e sofrimento, ela precisava compartilhar, precisava contar para que soubessem do quanto sofria por alguém.
"...a dor do fundo do meu peito me incomoda a cada dia..."
E mais uma bola de papel nas mãos trêmulas se forma e é jogado contra a porta fechada do armário às suas costas. Deve ser a décima quinta bola no monte que já se forma. Ela já não sabe mais o que dizer sobre si mesma. Ela quer brigar, gritar, chorar e espernear. Como? A escrita pouco passa a emoção que a língua tem. Os supra-segmentos que tanto colaboram com a nossa expressividade. Ela não poderia entender o ódio e a tristeza em letras escritas numa folha de papel. A intensidade da fala era cortante, tinha já uma boa parte do seu discurso pronto.
"Tento me conformar que assim foi, porque nossa maturidade é diferente e seguimos rumos diferentes. Eu me conformo, não é assim que deverá ser feito?"
Leu. Amassou o papel. Era aquilo que ela queria gritar, exatamente aquela dor. Se ela soubesse como, se ela pudesse quando... Ah, tanta alma vinda de dentro de si para fora, tomaria-lhe o ambiente, os tímpanos, a alma de quem merecia ouvir...
Como ser alguém que ultrapassa o limite do orgulho? Como ser o orgulho ambulante? Feridas que se mantém abertas, expostas ao vento e à poeira, sem a chance de cicatrizar. A eterna questão de ser e não ser.
"Lembrar de como éramos uma dupla, como funcionávamos tão bem, faz um contraste tenso com a situação em que passamos hoje. Toda a minha força se perdeu no dia em que nos separamos e aquilo foi difícil"
Ela sabia que poderia se expor cada vez mais, e mais, e mais. Embalagens de chocolates espalhados pelo quarto. Papéis amassados em bolas. Num canto, livros abertos em fúria, com páginas amassadas, escritos à lápis a tortura de ser apesar de. Por que deve haver uma existência apesar de? O que falta para seguir em frente?
A eterna dúvida de não saber ser.
Pois que guardou as folhas ainda em branco, jogou as bolas de papel fora, engoliu com voracidade mais um chocolate que consumia. Abriu os lençóis da cama. Amanhã eu tento outra vez.
Deitou-se.
P.S.:Acho que nunca falei tanto. Dane-se, vai assim mesmo.
P.S.:Aos que me lêem, apenas, aos que me escrevem, aos que me elogiam, aos que não ousam me criticar, um beijão ^^

sábado, 26 de abril de 2008

Do silêncio

O escuro anda me dando muito prazer ultimamente.
O simples toque no interruptor ou o fechar de olhos por alguns segundos são coisas que estão me trazendo paz nos últimos dias.
Ando escrevendo mais e falando menos, cada vez menos, até emudecer de vez.Quando esse dia chegar, serei feliz.
Cada vez mais sinto prazer em curtir o silencio da minha voz.Contralto, da época dos corais do Colégio Pedro II.Nem cantarolo mais as músicas que tocam no meu som do quarto.É um processo gradual.
Nao tenho mais tanta vontade de contar minhas novidades, meus passeios, minhas falas, minhas experiencias.Nao há mais que as ouça.Olho a volta e me sinto dentro da questão da eutanásia das minhas relações íntimas; muitas delas morrerão, e nós desligaremos seus aparelhos.Ando aceitando melhor as perdas, porque muitas já me aconteceram.Costume, força do hábito.
(Alguns ficam depois de tantas mil marés, serão esses que a gente carrega por toda minha vida-morte?)
O silêncio da minha voz me dá muito mais prazer.Acostumar-se com ele.Não será tão difícil, já que não sinto-me a vontade de falar.Seja para perguntar, ou para responder...
Escrever, ou seria esse meu destino?Sair das mitocondrias para as palavras, sílabas, morfes, fones...
A eterna quietude, que só encontrarei na minha plena morte.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Da vida após a morte - Regurgitando

Ando regurgitando muitas coisas.

O fato é que, sobre a última questão da prova da minha vida-morte, ainda não consigo resolve-la. O fato é que meu blog anda, de novo, pouco visitado, sinto-me falando para os teclados, apenas. O fato é que não sei resolver a última questão, como as provas do Carlos Alexandre ano passado ou como a pior das questões de física no vestibular (qualquer um que tenha feito). Difícil...

E vejo-me, mais ainda, sozinha. Não porque eu quero que alguém aqui comigo esteja, mas acho que, sozinha, sei raciocinar melhor, ou pior. Não sei...

Vida barroca essa que levo de fingir que tudo é perfeito, mas na verdade não está sendo.Falta alguém, faltam momentos...

...ou pessoa. Será que seria esta uma sub-vida, conviver com a dúvida, com a angústia de querer e não querer ter por perto, de ou de guardar para si, para sempre?

...outra questão. O que seria melhor? Talvez uma morte, ou não...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Da vida após a morte

Um dia me disseram que escrevo muito bem.Costuma sair bom quando a gente escreve coisas vindas diretamente do coração.Quase como a Clarice ou o Carlos...nunca como eles, lógico...

***

Minha vida anda cada vez mais como a vida de gente grande.Trabalho feito gente grande, estudo feito gente grande, namoro como gente grande e meus amigos me tratam como gente tão grande quanto mamãe.Vida corrida...e eu não penso mais nela.

Foi há uns tres ou quatro anos atras, nao me lembro bem, que me vi tão intima da morte por duas vezes.A primeira, depois de uma dupla discussão com minha mãe e com o Davi (acho que não há o que esconder por aqui), tentei dar fim a tudo que me incomodava: minha vida.A segunda, numa crise fundo-do-poço do auge da minha depressão, decidi enfiar todos os Floral 50mg na boca de uma vez só.Segundos antes de faze-lo, pensei pela primeira vez na minha vida e no quanto ela poderia melhorar.Dali nunca mais pensei na morte.

Ao invés de encará-la como normal, passei a ter medo dela.

E o medo faz com que a gente deixe um pouco de pensar no pior para focar em coisas legais e bacanas...só pra se distrair.E a gente se esquece de como a vida é magica; a gente acaba apenas vivendo.

E eu vivi como gente grande.Trabalho, faculdade, namorado, amigos, familia...até ouvir o estampido.

Silêncio.

Correria.

Algo caiu no chão, senti o asfalto cobrindo minha pele por baixo.Pessoas, gritaria.Carros, buzinas, sirenes, luzes, escuridão...

E uma estrelinha piscando no meu céu tão farto de brilho...Uma nova vida, um novo olhar...Como faço para que as pessoas que eu amo saibam que eu as amei?Como posso fazer com que meu trabalho seja mais gostoso?Como eu faço para que todas as paredes da faculdades tenham meu sangue, minhas lágrimas, meus sofrimentos, meus calos cravados como forma de demonstrar o valor tamanho daquelas paredes tão frias?Como carregar cada "filho" no colo, cada amor no coração?Deixa-los me dar valor, como?Como fazer com que o grande amor da minha vida, aquele que estendeu a mao pra mim pra me ajudar a terminar de levantar, seja erguido pela força do valor que ele tem?

Como fazer com que a pessoa que eu amo incondicionalmente volte para mim?

...

Não sei se sobrevivi.Só sei que eu já havia morrido.

domingo, 13 de abril de 2008

Disso

O que acontece é que o tempo passa...E eu aprendi que ficar presa a um passado não me deixa viver o futuro.Sim, lá vou eu falar de pessoas.
Quando botei o nome desse blog de "a vida é feita disso", não quis apenas fazer referência a uma das frases que mais digo quando a vida está uma merda, mas, sim, porque tem coisas que fazem parte da nossa vida.Tem pessoas que fazem parte da nossa vida; seja por um momento, seja para sempre, seja por uma lembrança, seja em corpo presente.
Hoje fiz um ano de namoro com o Michel.Foi lindo, porque quando a gente é apaixonado, as coisas ficam mais bonitas.Foi mais bonito ainda porque, pela primeira vez, eu chego num relacionamento, 366 dias depois, no mesmo clima do início: muito amor, alegria, carinho e respeito.Nós surpreendemos um ao outro o tempo todo, com palavras e gestos.Isso eu sinto que me faz muito bem, porque se eu me prendesse ao passado, não estaria hoje namorando e sendo muito feliz.
Minha cabeça e meus interesses mudaram muito, não significando que eu não gosto de nada que passei até meus 17 anos.Gosto de tudo e gosto das pessoas dessa época...Mas acabou.Não faz mais sentido determinadas coisas e determinadas convivências.Não cumprimento estas pessoas tão efusivamente como eu faço com os que tenho ainda um vínculo.Não é sinal de que não gosto de X pessoa, mas, sim, de que esse vínculo acabou.Mais uma pessoa no mundo, o que não significa que eu tenha deixado de gostar e tals.
Muitas pessoas eu tive que esquecer e cortar o vínculo.Tive grandes amigos, ainda saudosos, alguns deles, mas que esse vínculo não existe mais.Isso é uma coisa que me deixa até um pouco triste, mas eu, infelizmente, nao posso fazer nada.Interesses mudam, e só nos dias atuais pude entender a carta que a Diana me enviou em 2002, quando cortamos nossa amizade para sempre.Nosso caminhos não se cruzam mais.Foi isso que aconteceu com muita gente.
Peço desculpas por quem me entendeu mal, mas a Patinha de hoje não tem nenhuma semelhança com a Patinha de 6 anos atrás.Espero que me entenda.
P.S.:Um beijo aos que partiram.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Da caixinha

Arrumar o quarto é tão nostálgico...
Já devo ter falado isso umas dez vezes, mas é justamente porque eu concordo com essa afirmativa.Na verdade, todos os papéis que ocupam o tampo do meu baú da cama e minha bancada escondem segredos ocultos e, às vezes, assustador - não é nada legal achar as folhas do trabalho de literatura que era pra ser entregue ano passado e isso é assustador!O importante é que eu consegui colocar todos os papéis nos seus devidos lugares e todos os livros não lidos em cima do tampo do baú da minha cama.
Uma pilha com 5 livros não lidos (Grande Sertão: Veredas, As Intermitências da Morte, Desonrada, Caçador de Pipas e Sexo na Cabeça - tinha que ter sacanagem no meio =P), dois livros que sempre esqueço de devolver aos seus donos (TaeKwonDo, que o Michel me emprestou, mas na verdade é do Rogério, mestre dele e Metamorfose, que a Bianca Regina me emprestou), um livro do meu irmão (Almanaque dos anos 80), minha lata de bijuterias e uma caixa lilás.Aquela caixa lilás estava tão empoeirada que quando abri, senti a poeira entrando nas minhas narinas.Duas alianças, um cordão, um broche.
Fiz as contas: são 6 anos que tudo começou, 4 anos e meio que tudo acabou.Olhei pra dentro de mim e lembrei de todos os sonhos e todas as tormentas que passei nesse meio tempo.Doeu bastante lembrar disso tudo, mas acontece de a gente lembrar dessas coisas um dia.Parecia que eu podia navegar dentro dos meus próprios pensamentos; todas aquelas cenas que passei e repassei mentalmente, todas as descobertas e dores e amores.Tudo tão intenso, tudo tão drástico, tudo tão forte.Tudo que me fez ser o que eu sou hoje, percebi que não há mais motivos...
...Percebi, ao olhar para aquelas alianças (uma de hematita, outra de ferro, enferrujada e velha) que elas não combinariam mesmo com as minhas mãos.Percebi finalmente que tinha que ter acabado para aprender a ser.Uma longa jornada de refazer a Pat, para ser ela quem hoje ela é.Foi bom para mim, não sei se para ele também foi, mas pude agora olhar mais para mim e para o quanto eu posso me valorizar.
E ao fechar os olhos, com as alianças na mão, lembrei de alguém que me faz feliz hoje.Alguém tão igual e tão diferente dele.Alguém tão próximo e tão distante dele.Alguém que me ama tão semelhantemente diferente do jeito que ele me amou.Alguém que eu amo tão diferentemente semelhante ao jeito que eu o amei.Não há mais nada a restar dessa história, apenas um breve passado ainda timidamente espalhado pelos cantos obscuros do meu quarto.
Mas não tenho mais medo deles.Definitivamente, a saga acabou.Graças à Deus!
P.S.: Um beijo para a Bianca Regina, porque ela tá me convencendo de que ela é uma amiga muito foda!Um beijo pro Michel, porque nosso domingo tá chegando!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Da máquina do tempo (ou da mudança de assunto)

Descobri ontem que estou ficando velha.
Essa descoberta tão frustrante para uma jovem de 23 anos foi feita após "viajar" para um lugar distante, mais exatamente Vargem Grande, mais exatamente porque o namorado trabalha lá (uma das 4 escolas onde ele dá aulas...).Ah, também descobri que Vargem Grande é realmente muito longe e que o 747 é realmente muito medonho, mas essas descobertas são de conhecimento público; o lance é que quando a gente descobre que estamos envelhecendo a gente pára pra pensar muito mais na nossa vida, o que foi dela e o que vai ser de agora em diante.
As primeiras crianças saiam da sala de aula e, aos poucos, a pequena quadra na frente da escola foi enchendo de miniaturinhas engraçadinhas de tranças na cabeça e rabinhos de cavalo.Meninos em meninas de uns seis ou sete anos corriam de um lado para o outro, por trás das traves de futebol, por entre as colunas de ferro, subindo nas elevações das paredes.Alguns correndo, brincando de pique, outras penteando os cabelos da coleguinha, muita gritaria.
No meio desse cenário tão "comercial de margarina" meus olhos encontraram uma figurinha interessante: ela tinha os cabelos bem compridos, castanhos claro, usava sainha amarela e camiseta com o nome da escola, tinha uma enorme trança no alto da cabeça e uma parte dos cabelos soltos.Era bochechuda, mas não gordinha, parecia ter seis anos e olhos castanhos como o cabelo.Ela tentara sem sucesso se enturmar com as três meninas que brincavam de "imite o mestre" quando resolveu fazer o que aparentemente mais gostava: uniu-se a um menino gorducho, um de cabelos lisos e olhos puxados e a um outro com cara de levado para brincar de Naruto.
Foi como voltar aos tempos de INSA.
Foi como ver aquela quantidade de cabelos negros correndo pelo pátio na frustrante tentativa frustrada de brincar com as meninas ridiculamente pequenas da escola.Para a dona da cabeleira, tudo poderia ser tão grande e as pessoas eram tão pequenas...ela sempre acabava indo para onde os meninos jogavam bola e apostavam corridas, sendo a única menina a correr com eles e a única a chutar a bola com devida perfeição.Sentia-se mais a vontade assim do que levando sua boneca para brincar na escola...
...mais ainda do que ficar sentada num canto com seu sanduíche solitária nos seus grandes pensamentos de menina, tal qual a criancinha sentada com as costas na trave de futebol.Ela era tão grade como eu, tão bochechuda como eu e tinha os cabelos tão negros quantos os meus.Eu sabia como aquilo era estranho, como tentar, desde pequena, a ser aceita, mesmo sendo um pouco diferente.Destoávamos das demais por sermos grandes e desenvolvidas, poderia chutar que ela já podia usar sutiãns, assim como eu comecei tão cedo a usá-los.Mas eu sabia que ela ia crescer e se tornar uma bela mulher, como eu não saberia que seria assim comigo.Era como se ela fosse eu e eu fosse ela, quando me senti cada vez mais confusa, pois na verdade era eu ali, sentada com as costas na trave e era ela sentada me assistindo...
E voltei a si quando ganhei um beijo e acordei daquele tamanho devaneio.Era eu a ve-la, era ela a levantar-se da trave e juntar-se à professora para mais duas horas de aula de português.Como queria chegar perto dela, como eu queria dizer-lhe que tudo aquilo era temporário, que em breve ela sentiria-se tão normal como seus amigos...Fui pega pela mão, Michel queria ir embora.E eu atravessei a porta da escola sem tirar a menina da cabeça, as duas eu que eu havia reencontrado, a eu amiga dos meninos, a eu sentada na trave.
E foi assim que senti-me velha, pois eu já descobri que tudo que passei era apenas uma fase frustrante de criança, quando você é diferente e rejeitada pelos demais.Aos nove anos eu não imaginava que seria igual aos outros um dia e hoje me sinto tão igual e tão comum que acabo tentando ser diferente pra ter algum destaque semelhante ao de antes para mim.A introspecção deu lugar a uma breve popularidade, e percebi que u tempo passou.
Não reclamo do tempo que passa, apenas agradeço, até as primeiras rugas aparecerem.