quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Do cotidiano - manhã


Acordar as seis da manhã não é nada legal.Principalmente quando se está cansada.É mais prazeroso acordar as sete e meia, mas lembrar que a primeira aula é de português logo me deixa desanimada.Este é meu primeiro periodo que eu posso me dar o luxo de dormir um pouco mais, mas não posso me dar o luxo de estudar menos.As segundas são muito tristes e sinto-me sozinha naquela faculdade tão grande.Gosto do calor das quintas e da felicidade das sextas.As quintas estão todos juntos, ou uma boa parte deles.A segundas sinto-me só.Aquela sala tao grande, sinto-me tão pequena.Aquela turma tao grande, sinto-me tão impotente e, ao mesmo tempo, tão sábia.No início, eramos todos e todos eramos um só.E quando nos unimos nos corredores entendo que nada disso é em vão.Admiro o prazer que cada um tem de expressar seu amor pela prosódia, morfologia, literatura, Clarisses, Drummonds e Machados, Mattosos, Saussurres e Chomskys da biblioteca.Gosto de ver a felicidade de cada um numa promoçao de livros a um real e cada um com sua camiseta.Gosto das nossas histórias, que não são poucas.Um ano de faculdade parece tão pouco comparado ao que nos espera.Uma pós, um mestrado, uma simples iniciaçao científica.Os interesses, todos comuns, os amores, todos comuns.Diversidades mil.Acordar as segundas nebulosas e as quintas ensolaradas.Mensagem do namorado no meio da aula de Latim.Mil calouros perdidos pelos corredores.Protestos ilegíveis de política e sociologia.Cartazes de centros academicos...poesias!Tenho tantas em casa, ainda tenho que pendurar uma por lá!Pessoas criativas vão para a literatura, pessoas sitemáticas vão para a gramática.Quase uma divisão de escola.Quem gosta dos números, exatas, quem ama a vida, biológicas, quem ama a leitura, humanas.Idéias soltas são mais gostosas de escrever.Montar textos complicados como Mattoso fazia, sem um resumo no final, à excessao de Análise do Vocábulo Formal, que, aliás, é um saco!Sono na aula de Linguistica?Ah, natural, nada pior do que ouvir sobre gerativismo as sete da manhã!Gostosa é a aula de Grego, ou lembrar de como era bom os tempos de Katia Teônia no Latim.Ou a Teoria Literária cheia de filosofia e a Literatura Comparada cheia de textos.Os Fundamentos da Cultura com cinco alunos e o Portugues com 51.Todos desistiram de mim, disse o professor.Claro, Palladino, Ao Palladino, aqueles que vão morrer te saudam!, é o que a LEF/LEG te diz, cheia de medo.Mal sabem o que poderia ser pior.E, pensando bem, é bom acordar as sete e meia e assitir o primeiro tempo de Português.Pode ser bom o prazer de fazer tudo outra vez, agora da maneira que deve ser feita.Ou talvez eu aprenda a gostar de morfologia...

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Daquele

E de repente, tudo mudou.
Foi uma mudança que eu nao esperava, que eu nao queria, mas ela veio em boa hora.Era para aquela mesma que aprendera a valorizar a liberdade e a vontade de ser sem precisar se preocupar.Era, definitivamente, uma delicia ser o que quisesse.Vestir as roupas que queria, as blusas que queria, as saias, poder sair com quem quisesse e sentir-se livre para dizer sim ou nao da forma que melhor cabia.Mas nao; ainda nao era hora de se amarrar, de se envolver.Amigos, milhoes deles, eram bens unicos e preciosos; eles devem ser supervalorizados, eles cuidam e se importam mais do que um namoradinho qualquer.Uma chance sempre poderia ser bem vinda, de acordo com a situação, ocasião, perfil, status, enfim.Nada tão serio; nada tão leviano.Apenas o poder de decisão pulsando na palma da mão, coisa tão tentadora e gostosa de curtir: o poder de decisão..."SIM!" "NÃO!" Isso era bom.
Mas de repente, não mais que de repente, um céu azul marinho brilhou na minha cabeça.De repente, o que poderia ser um refugio da solidão que ameaçava as noites de verão transformou-se em lembranças ásperas da ultima experiência.
E, de repente, ouve-se o não...
Sim, foi a melhor decisão que havia tomado, desde aquele que decidi camuflar todos os registros de viva ativa daquele tempo tão sombrio...Sentia-me livre, leve, potente.Tinha a devida força.Podia ter quem eu quiser, fazer o que eu quiser mais uma vez.Se o telefone havia se silenciado, não tinha tanta importância.Acabou-se o carinho, não havia importância.Se fazia falta, não fazia importância.
E de repente, tudo mudou.E graças a toda essa mudança, sinto-me completa.Mesmo com tantos fantasmas me assombrando, sei que agora encontrei meu encaixe...

P.S.:Beijo pro Rony e pra Van^^
P.S.:nhá...ù.ú

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Dele

Por mais que eu tente, ele ainda não se foi.
É meio assustador andar com um fantasma do seu passado por ai, te lembrando de tudo que você fez e de tudo que você disse.Acordar cedo, tomar banho, ir para a faculdade e lembrar que um dia o mesmo que me deu apoio me disse que não conseguiria estar onde estou.Pegar um ônibus qualquer para determinadas áreas da cidade e lembrar que foi aqui, ali ou lá por perto que eu fui, falei tal coisa com ou sobre ele.É não conseguir ainda pisar em determinados locais por saber que posso, um dia, esbarrar com a figura física.
Me acostumei a conviver com seu espectro.Minha cabeça desenhou a lembrança dele na minha frente, com seus 17 anos, por mais que eu saiba que ele envelheceu.Por mais que eu abane a fumaça da lembrança pra longe de mim, ele sempre volta dentro dos meus sonhos, vestido de passado ou pior: fantasiado de presente e futuro.E quando ele vem fantasiado, é a minha pior lembrança, porque ele se funde com tudo que conquistei sem ele.Ele se mistura com as coisas que eu não teria se ele estivesse vivo na minha vida.Ele se transforma no que eu tenho de mais importante hoje e me amedronta e me ameaça, dizendo que vai destruir meus sonhos, minha vida, minha esperança.
Meu comportamento atual revela a passagem dele na minha vida, na minha história.Os anos de solidão, as noites de tortura, tudo isso revela a qualquer um que ele, sim, logo aquele que parecia tão normal, passou na minha vida.
Ele ainda é vivo, mas não porque eu quero.É porque ele é um fantasma vivo, que me amedronta só com a idéia de que posso encontrar seu corpo na rua um dia.Fico com medo de citar seu nome, lembrar por conta própria do seu semblante bonito e sorriso doce.Tenho medo de enfrentar a parte boa do passado, músicas e lugares recheados de história.
E, por mais que eu tente, ele ainda não se foi.E eu acordo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Poesia

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

(Manuel Bandeira)

domingo, 12 de agosto de 2007

Da emoçao


Fui assistir meu time do coração no Maracanã.Todo aquele arrepio pode ser resumido com uma foto.Você não precisa ser flamenguista pra entender o que é um jogo no Maracanã.Basta apenas apreciar a arte do esporte e curtir a torcida.A torcida é um espetáculo à parte.Gritos de guerra e provocaçoes e bandeiras e a arquibancada toda da cor do seu time.No meu caso, vermelha.Você nao precisa ser expert em futebol, basta saber o que é um impedimento e a diferença entre falta e penalti.Basta sentir vontade de nao ligar a televisão no Faustão.Basta voce querer se divertir.Nao precisa nem de muito amor ao time ou uma camiseta com o escudo.É muito bonito e poético acompanhar o jogo do inicio ao fim, gritar e torcer junto.
Na verdade, a vida é feita de pequenas coisas que nos arrepiam de primeira.Na rampa de entrada, eu só ouvia aquela massa de gente cantando"Flamengo, eu gosto de você" e aquilo me arrepiou.A diversão da alegria e alienaçao do povo brasileiro.Nao deixa de ser alienaçao e nao deixa de ser divertido.
Sei lá, eu gostei.Meio sem nexo explicar, mas eu gostei.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Da camiseta

Ela já estava de pijama, estava perto da hora de dormir.O dia havia sido cansativo e ela já estava quase com os olhos fechados, mesmo ainda de pé, andando por todo o quarto.
Algo estava estranho no ar, e ela não conseguia identificar o que.Talvez a tonteira, talvez o gosto das coisas.O dia foi todo diferente pra ela e tudo ainda rodava na sua cabeça.Achou que estar adulta era fazer o que quisesse, mas não era exatamente assim.Agora sabe como funciona.
Ou não.Na verdade, nem sabia direito porque fez o que fez.Só sabe que falou, falou um monte de coisas, gaguejou, enfim...Fez papel de palhaça mais uma vez.Se ela tivesse ficado quieta, se ela não tivesse se manifestado.Mas será que foi só ela que se manifestou?
Ela tinha a sensaçao de que podia sentir na própria superfície da pele o que acabara de fazer.Não tão grave que pudesse se arrepender, mas grande o suficiente pra mudar o rumo das coisas que havia traçado para si.
Talvez uns dias lhe bastassem para recolocar a vida nos eixos.
Mas nem adiantava mais.Já havia feito, havia deixado, havia se entregado.Arrependeu-se por ter deixado.Logo depois, pensou que a culpa não era só dela.
Pegou de cima da cama a pequena pilha das roupas utilizadas no dia: uma calça jeans, um par de meias brancas, roupas de baixo e uma camiseta preta.Como se não lembrasse de nada, levou a manga da camiseta ao nariz para certificar-se do cheiro de desodorante (quase não suava, mas deixava cheiro de Rexona nas mangas das camisetas).Foi ali que ela sentiu aquele cheiro.Na gola.Na outra manga.Nas costas.Na barra.Nas suas mãos aquele cheiro já lhe havia dominado.Cheirou seus braços e lá estava ele.No cabelo.No pijama.Nos ombros.
Sabia de onde vinha aquele cheiro e foi tirá-lo de si debaixo do chuveiro.Pouco se importou com a hora tardia e enfiou a cabeça na água.Sabonete por todo o corpo, por todo o box.Irritada, esfregou o xampu na cabeça, como se arrancasse piolhos inexistentes dos longos cabelos castanhos.Não queria aquele cheiro delicioso para si, não queria ter lembrança de mais nada.
Saiu do banho, enrolou-se na toalha verde, voltou para o quarto.Vestiu outro pijama, secou os cabelos longos, sentou-se na cama.
Respirou aliviada, como se tivesse arrancado quilos de cheiro do seu corpo.Sorriu, pois sabia que a noite poderia ser menos dificil.Talvez a semana fosse um pouco mais, nunca é facil enfrentar a luta diária entre vc e vc mesmo.
Como numa inércia de sono, jogou-se na cama, com os pés ainda pro chão.Mas quando levou as mãos ao rosto, com o intuito de esfregar os olhos, sentiu...
...o cheiro ainda não havia saido.Pior; a camiseta preta estava em cima do travesseiro, que agora estava totalmente embebido daquele cheiro tão bom e tão cruel...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Pra começar

Porque é certo que fotolog serve pra exibir fotos.

Eu nao quero exibir fotos!

Tem muito a ser dito, muito a ser pensado.Sou um ser pensante e por isso sou composta de erros.Sou humana, e sou passivel de erros.Meu titulo inicial desse blog tao novo quanto as minhas ideias.

Por esses dias eu venho filosofando com tudo a minha volta.Talvez seja porque estou entrando em uma fase nova mais uma vez.Quero o sentido das coisas, o gosto, o cheiro, o tato, o desejo das coisas.Quase um dejeso ardente por tudo que é meu.Um sentimento de sentir a minha posse.Quieta, mas querendo gritar pros quatro ventos que não estou quieta.

Não cuido dos problemas do país, da cidade ou do meu bairro.Até estou cagando pras coisas do meu condomínio.Vivo num mundo só meu e sou extremamente egoísta neste ponto.Sei que estou errada, sei que minha aversão a politica nao deveria de existir.Mas existe porque não tenho paciencia com presidentes e ministros e prefeitos.Odeio César, Cabral, mas gosto do Lula.Ele é tão humano quanto eu.Ele luta, mas erra.E seus erros são mais valorizados.Como eu.

Minha vida é meu mundo, meus amigos são habitantes dele.Amigos, familia, namorado, os lugares que frequento.Pessoas que amo, nem tanto e os que odeio.Odeio pessoas porque sou humana.Há pessoas que me odeiam, mas elas nunca me disseram isso.Mas eu sei de alguns.Por saber, pois não me importa.

Traí, fui traída, menti, mentiram pra mim, fui péssima amiga, fui melhor amiga.Fui anjo, fui capeta.Tudo isso porque sou humana.E todos são assim.Gosto de falar sobre essa necessidade de ser quem sou.Eu sou assim e ponto final.Já fui muito mais...muito menos...um tanto quanto...mas ainda sim, continuo sendo dentes tortos, órgãos em funcionamento, dejesos à flor da pele, fome, sono, ódio, amor.

Humana, que nasceu pra cometer erros.