sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Inveja tem sono leve

As arrumações de quarto sempre me rendem bons post no blog. Dessa vez, a história não foi tão boa: mexendo nos sapatos, arranjei uma gripe. Resultado: nem sei se conseguirei fazer as coisas que eu quero fazer nos próximos dias. Isso, sem contar com o belíssimo tombo que levei na faculdade, no meio do pátio da Letras. Resultado final: estou com o naruiz entupido e as coxas doloridas. Nada bom...

Os máis céticos chamam de desastre. Os mais místicos chamam de olho grande. Maldito esse olho grande que pega a gente de surpresa. Justamente na época de baixa produtividade pessoal na minha vida. Na verdade, as coisas até iam muito bem, mas de repente, tudo começou a desandar. É muito comum a gente comemorar algumas coisas legais que andam acontecendo com a gente, mas a gente mesmo vai aprendendo que não se deve fazer dessa forma. Como assim?

Oras, as pessoas desejam coisas, de todos os tipos. Na verdade, eu não entendo como acontece esse lance de inveja. Blablablás à parte, também invejo as pessoas. E você também, não venha de papo. Quando você passa o ano inteiro estudando pra passar naquele concurso que só abre uma vez na vida e seu amigo, se só estudou na véspera, passa em primeiro lugar, você não fica bolado? Claro que fica, po!

Uma vez, li na revista que colocaram uma mudinha de pimenteira na sala do presidente, lá em Brasilia. Perguntei à minha mãe a relação entre a pimenteira e a sala do presidente e ela, defensora ferrenha do Lula (eu também sou, mas eu nem pretendo votar na Dilma, lamento), disse que pimenteira é muito bom pra olho grande. Aí, todas aquelas histórias de proteção e mistiscismo que eu ouvia da minha tia-avó vieram à minha memória. Minha tia-avó era mãe de santo e morreu quando eu tinha uns 10 anos, mais ou menos. Lembro-me que eu morria de medo dela quando ela recebia aquelas entidades e coisas do tipo. Até hoje fico meio assustada de lembrar. Ela dizia que olho gordo é assim mesmo: você começa a ver que tá dando tudo certo e acontece qualquer coisa que desanda tudo. Minha madrinha teve várias daquelas pedras olho-de-boi e dizem que, você colocando num copo d'água atrás da porta, afasta o mau olhado. Aquilo quebrou umas quantas vezes no quarto dela, sem que ninguém tocasse. Imagina? Você tá vendo tevê com todos na sala e só ouve um barulho de vidro lá do quarto? Credo...

No final de tanto papo, venho tentando praticar a filosofia de uma grande amiga minha: menos papo, mais sucesso. É irresistível contar pra sua melhor amiga que conseguiu aquele super emprego ou contar para o namorado que fez uma excelente prova na faculdade. No entanto, é muito melhor declarar oas quatro ventos o seu sucesso quando tudo está pronto e forte, sem riscos de desmoronar nada. Por mais que seja difícil, assim, a gente consegue usufruir de toda a coisa boa. Mesmo sendo cético ou místico. Importante prevenir, né?

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Arrumando meu quarto, descobri algo muito feliz. Há pouquíssimos resquícios do meu passado escondido no armário. Ou eles estão muito bem escondidos, ou o tempo se encarregou de picotá-los e jogar fora. Agora não sei mais o que eu faço com os lindos desenhos que meus alunos fizeram pra mim. Sinto falta deles numa dualidade cruel: nunca voltaria para o colégio onde os conheci, mas eu sonho com eles todas as noites, com saudades daqueles pentelhos atentados. É complicada essa vida de professorinha...