sábado, 6 de março de 2010

A primeira semana

Já faz um tempo que não sinto tanta vontade de vir aqui. Ao abrir meu blog, vi que tudo está diferente: a tela, a disposição das coisas, a fonte. Estou desaprendendo a escrever e, de alguma forma, não queria ir por esse caminho.
Cresci ouvindo que sou muito boa com as palavras, mas todos vocês sabem que eu cresci sonhando com um laboratório. Por conta dessa dualidade, e por conta de outras coisas também, entrei na faculdade de Letras aos 21 anos e na de Biomedicina semana passada. Isso me ensinou a acreditar nas coisas que estão rascunhadas para nós, por conta de toda uma conspiração a favor da nova faculdade.
Particular, pouco conhecida, de pequeno porte e mercado restrito. Foda-se, é minha e, de alguma forma, consegui e "tô pagando" por ela. O foda-se vai para todos os meus amigos que não me apoiaram. Não que eu comece a deixar de considerá-los como tal, mas eu vou aprendendo a entender o que se passa na cabeça das pessoas. Não quero ser injusta com ninguém. O ano de 2009 foi muito difícil, como eu disse no texto anterior. Isso me rendeu uma gastrite, a pior que eu já tive nos meus 25 anos. Sofro desse karma desde sempre. Minha primeira crise séria foi aos 10 anos, quando eu passei a suprimir meu desejo assassino de matar a garota mais popular da escola. Parece uma grande idiotice, mas é porque vocês não cresceram com ela. Tudo que eu sinto vai se acumulando até se transformar numa grande dor na boca do estômago. E posso estar com a alimentação perfeita: arroz integral com frango grelhado, suco de frutas e leite com torradas e geléia diet. Gastrite nervosa não tem cerimônia.
Pois passei duas semanas em posição fetal em cima da cama, chorando de dor. Ora em Jaracepaguá, ora em casa. Tudo por conta de toda a pressão dos amigos e da família. Aquele ultimato de "eu não vou pagar a faculdade dela" foi de um peso forte; saber que você não poderá contar com seu pai pra te ajudar é brabo, por mais que a mãe tente dar um jeito.
Fui chamada de tudo.Teve gente que nem falou comigo. Teve até um que disse que eu não tinha capacidade de vencer essa parada. Foi brabo. Foi muito difícil. Não passei pra nenhuma federal, e não por notas baixas. Presenciei muitas caretas. "Particular???", acompanhado daquele nariz recuado, fazendo uma cara de nojo. "Pelo menos dá pra terminar a Letras!".
A Letras! Pois que eu tinha me esquecido dela. A tal ponto de nem me considerar mais pertencente àquele grupo quente e letrista. Ainda está para piorar muito a minha rotina e juro que eu ainda não sei o que devo esperar de meus amigos neste momento.
Quando digo meus amigos, não são todos, que isso fique muito bem claro. Recebi muito apoio de muita gente boa, que não teve cerimônia pra me apoiar, pra dizer "vai fundo". Pra me dizer que o apoio mais importante é o que viria de dentro de mim. E segurei forte. Passei minhas manhãs na biblioteca do bairro, as tardes dando aulas e as noites abrindo mão de dançar para ter aulas. E, graças a Deus, não segurei sozinha.
Foi então que, pulando toda a zica burocrática entre janeiro e segunda-feira passada, me apresentei como caloura na comunidade da faculdade. E assim, calourando, fui descobrindo as milhões de oportunidades que me esperam. E descobrindo, pude voltar a sonhar. A curtir as primeiras aulas chatas. A conhecer pessoas. Não serão os melhores companheiros de faculdade do mundo, mas aposto que eles são bons. E em apostar no talento que as pessoas guardam, sei muito bem como se faz. E quando eu as superestimo, entendo que nem todos podem raciocinar de uma forma mais crente no próximo.
Quanto aos sonhos, toda noite me vejo num laboratório diferente. Esses dias me vi juntando um espermatozóide num ovócito, cuidando pelo microscópio. Ontem o professor disse que podíamos bordar nossos jalecos. E eu me vi num jaleco branquinho e bordado. Coisas de sonhos são idiotices, mas foi exatamente o que imaginei quando criança.
Para todos, sinto que, finalmente, achei meu caminho. É apenas a primeira semana, mas consigo enxergar um milhão de caminhos numa faculdade particular e pequena. Desejos são sempre muito grandes dentro de nós e quando falamos deles, parecem tão pequenos. Isso única e exclusivamente porque quem ouve não compartilha esse desejo com você. E ouvimos coisas. Não me importo, eu juro!