domingo, 6 de setembro de 2009

O segredo do casamento feliz

Todo fim de semana a gente vê filme ruim na casa do Michel e, dessa vez, decidimos ver Divã. Os meninos protestaram, mas as meninas queríamos ver e decidimos que assim o faríamos. Éramos Carol, Marcela e eu na sala da casa do Michel diante da TV de mil polegadas de 17 mil reais (rs) vendo Divã com Lilia Cabral.
Quando eu era mais nova, queria ficar bonitinha que nem Lilia Cabral quando eu tivesse 45 anos. Ela é uma senhora bonitinha de olhos azuis e sorriso fofinho. Não parece ter 45 anos. No filme, ela realmente tinha 45, e realmente fez papel de mulher que nem eu, Carol e Marcela (cada uma com suas diferenças e gostos). Na verdade, o que mais me tocou não foi ela ser tão bonitinha e fofinha como uma criancinha, mas sim o enredo do filme. Como uma amante frustrada da Análise do Discurso (matéria essa que me deu profundo gosto pela Letras, mas que, quando eu fui aprovada com 10 e ela acabou, meu gosto pela faculdade diminuiu violentamente, principalmente porque não tem mercado para esse tipo de pesquisa), identifiquei vários elementos discursivos que codificamos como o bem, o mal, a felicidade e a tristeza. Como na cena em que ela dá uns pegas no Reinaldo Giannecchini (deixando as três meninas do sofá babando de inveja), cujas cenas são iluminadas de uma maneira que passe a sensação de aventura extra-conjugal (a cena é meio avermelhada, o motel é provocante, enfim). O fim do relacionamento dos dois é bastante esperado sem que haja nenhuma fala, na cena em que arma uma chuva daquelas e os dois estão admirando as nuvens negras que se aproximam. Naquela cena, comentei com as meninas que as cenas seguinte seria a do fim do casamento dela com o José Mayer. Enfim, não quero ficar debatendo AD com vocês, mas, sim, no conteúdo das cenas seguintes a do fim do relacionamento extra-conjugal da personagem de Lilia Cabral.
A gente se apaixona naquela esperança tão medieval de ser feliz para sempre. A vida pós cerimônia não é tão bonita como a de Cinderella ou de Bela (de A Bela e a Fera). Machado tentou nos avisar, mas acho que a ideia de grande amor ainda se perpetuou pelos anos. Pobre Machado, e eu li tantas vezes o Dom Casmurro e as Memórias Póstumas de Brás Cubas. A gente não aprende.
Mas, na verdade, o que era pra gente aprender? Que não devemos casar nunca? Logo imaginei que talvez fosse essa a mensagem que o diretor do filme Divã queria passar pra mim. Passei por relacionamentos difíceis antes de encontrar o Michel. E mesmo dizendo aqui que ele é ótimo, ele é tão humano quanto eu. E humanos são feitos para cometer erros. Não estou livre disso e nunca estarei.
Decidi esquecer esse assunto e fui viver a minha semana sempre turbulenta de aulas na casa dos meus queridos pestinhas. Foi quinta última o aniversário de uma grande amiga minha. Tenho ela na minha vida desde quando nos entendemos por gente. Eu tinha 6 anos, ela 5, quando brincamos com as nossas Barbies juntas pela primeira vez. E quando éramos crianças (fofinhas, bochechudinhas e engraçadinhas), sonhávamos em crescer, trabalhar, casar com um cara muito bacana e ter uma penca de pirralhinhos correndo pela casa. Coitada de mim, ainda não tinha estudado biologia pra saber como nascem os bebês, rs. Crescemos juntas sempre com esse ideal de vida. Ela não sabia bem no que queria fazer da sua vida, mas eu sempre quis ser ou professora, ou cientista (que merda, nasci pra ser pobre). E como ainda não tinha ganhado meu conjuntinho de laboratório do meu pai, gostava de brincar que eu era professora de portugês com ela. Aquilo era engraçado e ficamos lembrando desse tempo na visita que fiz a ela por conta do seu aniversário. Ela completou 24 anos. Casou-se ano passado (chorei e me rasguei toda nesse dia), grávida de 5 meses, não por conta da sua condição de gestante, mas, sim, por amor mesmo. Sua filha fofa já fez um ano mês passado e muito se parece com ela. Ao perguntar-lhe como era a vida de casada, ela logo me respondeu que era muito difícil conciliar tudo. Até ai, não me surtiu nenhum efeito de impressão. Complicado foi ela dizer que enjoou de viver assim. Não que o casamento fosse ruim, mas é que não imaginava que fosse tão...chato! Perguntei-lhe se não era por conta da rotina e ela me respondeu que viver é uma grande batalha não só entre você e você mesma, mas, também, entre você e as pessoas que te cercam. A batalha dos orgulhos. E ele como homem, ela como mulher, era complicado conviver juntos. Ela acha muito feio os palavrões do futebol que ele proclama porque a pequena ouve e pode aprender. Ele com certeza acha um tédio esse lance de ela viver cercando a filha para que ela não se machuque ou coloque algo do chão na boca. Eu lhe disse que casar não era pra qualquer um e ela disse que achava que essa vida não era pra ela. Tudo bem, saí da casa dela e fui direto para a aula da noite. Não pensei nisso até o fim do dia, quando cheguei em casa e parei pra sonhar (de vez em quando é bom fazer isso). Diante de toda a minha experiencia nos últimos dias, pensei muito sobre esse lance de casamento, amor e afins (que, ultimamente venho falando tanto) e depois de me perguntar se era realmente isso que eu queria pra mim um dia, logo me deu um estalo. O que a minha amiga disse sobre os relacionamentos tem todo fundamento. Ninguém mais vive em harmonia por seja lá qual for o motivo. Há por ai uma batalha constante de egos e orgulhos, como se precisássemos constantemente nos auto-afirmarmos que somos muito mais do que qualquer pessoa por ai. Como empinamos o nariz pra quem gosta da gente, só pra não demonstrar fraqueza. E como temos prazer em sacanear as outras pessoas que não fazem a nossa vontade. No fim de todo esse pensamento, sobre a falta de prazer de fazer o próximo feliz, que as pessoas vêm cultivando no mundo moderno, achei que tudo isso era uma grande bobeira. Foi quando meus devaneios foram interrompidos por alguns berros vindo da sala, sobre o porque de cozinhar assim ou assado aquele frango ou falar desse ou daquele jeito. O casal, que tanto acreditei que fosse harmonioso quem qualquer momento da vida, às vezes, me assusta. É como se ele não tivesse prazer de compreender todo o esforço que ela faz por ele e por nós. E logo acreditei que minha amiga realmente está certa.
Outro dia, num post desses, a Marcela arrematou o meu "fazer dar certo" com um comentário altamente plauzível: "Eu sei que muito de um relacionamento é baseado nas vontades dos dois, o grande X da questão é que as duas pessoas precisam trabalhar para o bem do relacionamento. Isso significa muito mais do que gostar da mesma banda de rock, ter sintonia na hora h e otras cositas más. Saber a hora de abrir mão, saber a hora de botar pé firme, brigar um com o outro, brigar um pelo outro, chorar, comemorar, caraca, é difícil pacas. Cansa, dá vontade de desistir, dá curiosidade pela grama verde do vizinho.(...)A vontade de dar certo deve vir em primeiro lugar." Acho que posso fazer minhas as palavras dela, pra arrematar esse assunto e, de vez, começar a falar de outras coisas.

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Desculpem a ausencia, mas minha vida não está tolerante a erros. Acho que se eu errar dessa vez eu nunca mais voltarei ao normal. Isso me dá medo.