quinta-feira, 8 de outubro de 2009

De geração em geração...

Na mão dela, um símbolo da minha adolescência: revista Atrevida!
Quando eu falo "minha adolescência", parece que eu tenho uns 35 anos. Não, tenho 24. Mas quando você tem 24 anos, você não é mais uma menina de 14, certo? Então, há 10 anos atrás, eu estava no auge dos meus 14 anos (não sou de 85, mas de 84. Meu aniversário é no fim do ano, então em 1999 eu tinha 14 e fiz 15, entendeu?).
Quando eu tinha 14 anos, eu tinha mais ou menos o corpo que tenho hoje. Com a excessão de dois sisos, queixo grande e 7kg nos pneuzinhos. Tinha os cabelos meio alaranjados, por conta de uma friustrada experiência com tintura de cabelo, o dobro das espinhas que tenho hoje, mas os mesmos 176 cm que me matam e me perseguem até hoje. Vestia o mesmo número de calça jeans, sutiã, tinha o mesmo calinho no polegar direito e o mesmo apreço pelas aulas de ciências e geografia.
A grande diferença é que eu era mais dramática. O drama na minha vida era constante, mas depois o professor de biologia me explicou que isso se chamava puberdade. Achei interessante e, assim, pude entender que todos os dramas que fiz não tinham metade do tamanho que eu dava a eles. Adolescência é uma coisa engraçada, né? Eu andava com aquele mundaréu de gente, parecia um pelotão invadindo o Colégio Pedro II, no Centro. Éramos 8 pessoas, um deles era meu primeiro namorado. Infelizmente, nenhum deles está ao meu lado (e sinto mais saudade da única que eu sentia mais verdade na sua companhia, que me deixou sozinha nesse mundo há um ano) como há dez anos atrás, mas entendo que a vida os levou de mim por um bom motivo.
Pois era nessa época que eu lia Atrevida. Putz, eu morava na banca pra comprar Atrevida. Saía do colégio (e o Centro sempre é um ótimo lugar pra estudar. Saía da escola direto pro camelódromo, pra Avenida Central, pra Avenida Passos e para o McDonald's de Las Vegas, mas este último é para um outro momento...), atravessava a rua e comprava uma novinha, todo mês. Na capa, é claro, os gatos do momento: Kevin Richardson, Leonardo DiCaprio, Taylor Hanson, Rick Martin, entre outros. Dentro, os testes mais esclarecedores da minha vida: ela é sua verdadeira amiga? Ele está de olho em você? Você é uma boa namorada? Ele te trai? Seu pai é durão?
Isso sem esquecer da seção de cartas. Era minha parte favorita!!!! Sempre fui uma boa aluna de ciências (porque até a oitava série, a gente chama biologia de ciências. Doido, né?) e na sétima série a gente aprende sobre os funcionamentos do corpo humano. Claro que a gente aprende sobre aparelho reprodutor e DST's e eu, que sempre fui muito curiosa, passei a mão nos livros de biologia do papai, da época dele de faculdade, e lia tudo sobre patologia, inclusive sobre herpes, candidíase e gonorréia (essas DST's que ninguém se toca que se pega trepando). Aos 13 anos, já sabia o que era DIU, sífilis e Kama Sutra. E quem irá dizer que não tenho uma veia científica?
Enfim, eu, no auge dos meus 14 anos, julgava saber tudo de teoria sobre sexo. Porque há dez anos atrás nenhuma adolescente com o mínimo de instrução perdia a virgindade antes dos 16. Minhas coleguinhas (inclusive eu), conheceram o que era sexo (mal e porcamente falando, porque quando os meninos têm 16, mal sabem eles como se faz, né, rs) só depois dos 16. Hoje, as meninas de 12 estão grávidas do segundo filho, do segundo pai! E eu adorava rir das cartas que as meninas, cheias de dúvidas cretinas, mandavam pra Atrevida.
"Transei com meu namorado na banheira. Posso ficar grávida assim?"
"Meu namorado disse que eu só posso provar meu amor por ele se eu transar com ele. O que eu faço?"
"Minha melhor amiga disse que só sexo segura namorado. Tenho 12 anos e sou virgem. O que eu faço?"
"Estou sentindo uns enjoos. Não posso sentir cheiro de perfume que me dá vontade de vomitar. Tenho 11 anos e sou virgem. Posso estar grávida?"
"Eu não sou mais virgem e meu namorado é. Quero transar com ele, mas não sei se ele vai ficar assustado. Tenho 13 anos. Como eu faço para chegar nele?"
"Namoro há 3 meses, mas semana passada perdi a virgindade com meu primo. Isso é traição?"
Até uns anos atrás, tinha todas essas reportagens numa pasta rosa, junto com as letras traduzidas dos Backstreet Boys, Spice Girls e Britney Spears e as fotos sem camisa do Kevin e do Brian. Tive que jogá-las fora quando entrei na faculdade, para guardar a quantidade de folhas e apostilas de literatura e gramática.
Foi ontem que eu, voltando da aula de ballet, vi na mão da Kiowa, de 15 anos, um exemplar novíssimo de Atrevida. Meu Deus! Ainda fazem essa revista!!!! Quase chorei de emoção, todas as imagens vieram na minha cabeça naquele momento. Logo depois, pensei que, como o mundo estava muito mudado, hoje as meninas de 14 anos não são como as meninas que tinham 14 em 1999, a revista estava toda mudada, tratando de outros assuntos e abordando outros tipos de música. Pois aí eu vi que não.
Na capa, o ator de Crepúsculo (socaram na cabeça das meninas que ele é lindo. Eu acho ele meio gay, mas minhas amigas eram loucas no Leonardo DiCaprio - e ele é gay!). Matérias da capa:"Dicas dos meninos para a sua ficada virar namoro de vez!", "Postêr do lindíssimo Edward Cullen - Crepúsculo!", "Dicas de moda pra sair pro shopping, pra balada, etc", "Como preparar sua festa de 15 anos", "Saiba como pedir ao seu pai pra sair com os amigos" e "Os meninos dizem: não perdoam traição!". Caraca...não mudou NADA!!!!!! E levando em conta que a puberdade é dramática, a revista (agora vendo com o meu olhar de vinte e tantos anos) alimenta essa questão de drama das meninas, matando-as de agonia e depressão!!!!!
Virei pra Kiowa e disse que havia muito drama desnecessário na vida de uma adolescente e ela disse que a vida dela tem dramas cheios de fundamento. Minha professora de ballet riu e disse a ela que quando chegasse à nossa idade, ela ia perceber que fez uma tempestade em copo d'água.
E aí, entendi todos os meus dramas adolescentes. E dizia tanto que os mais velhos eram uns chatos metidos a sábios. Acho que ela voltou pra casa com essa ideia de nós...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O poder do etanol

Não sou de beber.
...
Juro! Minha história com o etanol começou tarde. Eu tinha 21 anos quando o Laio, grande amigo da faculdade, me levou à Reitoria. A Reitoria foi, por muito tempo, um célebre lugar de encontro dos boêmios do Fundão. Foi lá que bebi minha primeira Itaipava.
De experiência com pessoas bêbadas, já sabia como se bebe. Almocei bacanamente e fui beber com os amigos. Chupava uma Halls de menta a caminho de casa e pronto: já estava tudo bem. Não que o segredo fosse somente esse, mas nunca passara dos 2 copos até o dia em que eu inventei de conhecer as saudosas choppadas da pista de aeromodelismo. Quem entrou no Fundão antes de 2007 sabe como era legal sair de uma aula caspulenta de sexta e se perder naquele mato com a cara cheia de birita. Bem, foi lá meu primeiro pilequinho. Estava solteira na época, então era divertido virar Gummy e rir da cara dos amigos. Naquele dia, foi um festival de chifre da parte dos amigos...
...
Na verdade, estou contando sobre minhas experiencias etílicas porque lembrei de uma antiga colega minha da escola que, bêbada, pediu pra que eu lhe desse um soco na sua cara. Na hora, não entendi nada, mas depois meu pai me explicou que ela estava bêbada seriamente. Eu tinha 14 anos.
Quando você bebe, meio que você perde o medo, perde a noção, perde a sensibilidade. Você é capaz de falar coisas e fazer coisas e eu, que sempre achei que era psicológico, me surpreendi quando, ao levantar da mesa de plástico do barzinho da Reitoria, não achei o chão e caí. Como uma profunda admiradora das ciências biológicas, como todo mundo sabe, logo fui investigando os processos alcoólicos e do porquê que a Lei Seca é tão importante na nossa vida de trânsito.
Foi em São Paulo que senti medo de morrer pela primeira vez. Bebi além da conta, mas ainda era a mais sóbria do grupo que tinha ido a uma baladinha supimpa de Vila Madalena. Porém, não sei dirigir. Com toda aquela vodka na cabeça, eu mal sabia o que podia acontecer comigo. O som alto dentro do carro, minhas primas cantando. Fiquei com muito medo e achei que aquele carro ia entrar num poste paulista.
Tirando essa aventura tão arriscada, ultimamente venho sentindo essa vontade extravagante de sair fora do mundo. Assim, no pleonasmo mesmo. A vida anda tão puxada pra todos; olho para os lados e todos os caminhos são difíceis. Tem vezes que entendo como alguém começa a beber. Às vezes, entendo porque algumas delas não conseguem parar. Se a tendencia ao vício do álcool for realmente genética, como estudam há bastante tempo, tenho tudo pra ser alcoólatra.
Na numa festinha dos amigos da faculdade que descobri o que é sair do mundo. Depois do sexto copo de vodka (a quantidade importa menos do que as condições na qual você bebe, lembre-se disso), senti que tinha o poder de fazer qualquer coisa naquela festa. Tinha o poder de dançar, de cantar, de pular, de fazer spacatto, de falar o que eu bem entendesse. Não era eu. Tudo que eu não queria era ficar de porre, mas tudo que eu mais pedia aos amigos era que enchesse meu copo. Foi tenso, angustiante e, ao mesmo tempo, libertário, porque eu sentia que tinha o poder. De quê, eu não sei.
Depois de um tempo, olhando nos olhos das pessoas que sempre amei, me cercando numa mesa do shopping, que entendi que não podia nada. Quando voltei a si, entendi que podia fazer uma coisa inclusive sóbria: fazer com que rissem de mim, de maneira positiva. Dizem que sou bêbada sem álcool. E sou mesmo.
Mas juro pra vocês que eu não sou de beber...