domingo, 20 de julho de 2008

Do vago

Ouvindo músicas, trancada no meu quarto...Sentindo ainda o gosto da sopa de legumes, o que me faz lembrar que nascer dá um trabalho danado no primeiro mês.
Estava lendo agora o que ela escrevia antes de morrer. É incrível nossa afinidade, talvez por termos pertencido ao mesmo corpo. Ela era apenas ela; eu estava ainda mergulhada em seus sonhos de um dia ser. Pude compreender cada letra de cada texto, mas não como se tivesse passado comigo. Na verdade, é difícil ser.
Como fazer com que a pessoa que eu amo incondicionalmente volte para mim?
Li essa frase e juro que ela ficou sobrevoando minha cabeça um tempo. Voltar...pra quem? As lembranças andam ficando cada vez mais vagas, às vezes, pouco me lembro do que acontecia com ela, como se eu tivesse visto um filme há muito tempo. Sim, é confuso e complicado, mas tenta nascer quando sua vida está pronta? É difícil ser! E está sendo.
Hoje vi alguém que não fazia mais parte da vida dela desde antes de ela morrer. Lembrei-me deste alguém porque sei que este alguém fez uma participação muito forte na vida dela. Não do jeito que ele quis, mas fez. E pouco soube ele da diferença que ele causou na vida dela. Na minha, pouco faria: como disse, nasci com a minha vida pronta. O que estranhei foi a pontada que senti no meu coração. Não entendo porque pessoas se vão, e essa questão eu compartilhei com ela antes de trocarmos de lugar nessa vida errante. Ela perdeu muita gente e sofreu pela maioria dessas perdas. A pessoa que eu encontrei hoje não causou nela o sofrimento propriamente dito, mas, sim, indignação e revolta. Não foi isso que senti. Na verdade, senti um incomodo muito profundo de dividir o mesmo espaço com alguém que não foi autêntico por muito tempo com ela. Tomei suas dores, senti vontade de gritar de incomodação. O que sei é que eu estava certa em não fazer a desentendida do contexto histórico. Ninguém é obrigado a perdoar, nem ela se sentiu nessa obrigação.
Ela não perdoou e morreu devendo essa a outra pessoa. Quando ela se foi, tudo que ela queria era um abraço sincero, algumas lágrimas, dizer que perdoaria, que queria que tudo fosse normal. Estava nos seus planos para mim esta pessoa na minha vida. Não aconteceu. Ela tentou, sabendo que não era dever dela. Sinto pena de todas as coisas que ela tentou fazer. Em uma coisa temos em comum: o orgulho. Talvez ela não tenha sido bem interpretada ou sei lá. Só sei que esta pessoa não está na minha vida. Sei que esta pessoa faria muita falta na vida dela, mas eu não posso sentir falta de quem nunca fez parte da minha.
É confuso para mim entender o ir e vir das pessoas. Não consigo vê-las como bases sólidas, isso é muito difícil. Quero fazer diferente do que ela fez agora. Quero cortar os laços do passado, os laços que magoaram. Não quero que ferimentos dela venham me incomodar. Vim para mudar a vida que ela fez, não o passado, mas o futuro. Vim dar ordem nas coisas simples da vida. Vim deixá-las mais simples.
(Na verdade, nem era pra escrever hoje. To devendo um texto a um amigo meu sobre como é a sensação de comer. Dizem que é ótima, estou louca pra experimentar!)

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