quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Esquecer não é perdoar

Abri umas pastas e logo vi aquele ícone de WMP entre tantos JPEGS numa pasta chamada "fotos". Dei um clique duplo e logo identifiquei a música. Não sei se foi a coisa certa.

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Os acordes de uma canção nos fazem memorizar letras e passagens da nossa vida. Os trovadores medievais cantavam seus próprios poemas. Ilíada e Odisséia são cantadas no original, ao som de uma lira. Texto lírico, literário. A palavra surgiu do intrumento.

Ela sempre tinha na memória lembranças de coisas da sua vida com trilha sonora. Ela ouvia Fogo, Capital Inicial, e lembrava do ex-namorado. Ela ouvia Just to be close to you, BSB, e lembrava de uma grande amiga da adolescencia. Ela ouvia Vertigo, U2, e logo vinha à sua mente os anos de caixa de loja.

Uma cena; uma música. Quase uma trilha sonora.

Assim eu vim. Uma nota musical me faz viajar pelas lembranças dela. Ainda tenho poucas genuinamente minhas, o que sei são coisas que ela viveu. As lembranças dela são minhas agora, assim como a vida dela toda pertence a mim. E aquela música no computador, com aquela letra, com aquele tom, com as notas, harmonias e instrumentos...

Foi uma dor de saudade de quem eu nunca tive. Pude fechar os olhos e ver...
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, e ao entrar no ônibus, debaixo daquele sol estalante do lado de fora, fechei a cortina da minha janela. Não me deixe ver isso, não os aguento. Fechei os olhos e deixei que as águas invadissem meus olhos. Quieta, quieta, quieta. Acordei tão longe dali, com os olhos doloridos, com a mochila meio caída. No mp3, O Teatro Mágico. Os opostos se distraem, os dispostos se atraem. Nada me deixou feliz, nem as gracinhas do papagaio do meu tio, nem o cachorro que brincava feliz entre nossas pernas. Nada me deixou descansar. Nem a pizza paga pelo tio ou a cama gostosa da prima e seu próprio pijama.
Esquecer não é perdoar. Seria capaz de faze-lo, mas nunca esquecerei o que passei. Se um dia eu tiver a oportunidade;
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O violino gritava umas notas agudas, e o palhaço gritava a celebração. Celebração de quê???? Não consegui entender a dor, a necessidade da distância, a saudade das lembranças... E eu lhe prometera que não tocaria mais neste assunto, já o fiz.
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...se lembrar de celebrar muito mais... a porta aberta, o porto, o acaso, o caos, o cais... a poesia prevalece... a paz... a ciência... não acomodar o que me incomoda... laralarala... laralara...

domingo, 7 de setembro de 2008

Da solidão

Ela saberia explicar o que venho sentindo.
É tão confuso ver as pessoas indo embora. Mais ou menos o que ela viu até antes de morrer. Ela nunca soube lidar com perdas, e caiu no poço. Esse poço era tão fundo, que demorou muito tempo para ela conseguir enxergar a luz. E quando enxergou, viu uma porção de gente nova disposta a ajudá-la a tirar dali. Agora, essas pessoas que ajudaram-na a sair desse poço estão indo embora (ou já foram) também. E eu tenho medo de não saber lidar com perdas. Porque ela não soube. E por ela não saber, seus últimos meses foram cheios de amargura e saudade. É confuso você ter alguém ontem e não te-la mais hoje. Eu entendo a dor dela, hoje posso dizer que sim.
Certa vez, alguém a fez chorar. Nossa, isso faz alguns anos, mas ela era madura suficiente para chorar de saudade. Esse alguém não se foi para que ela chorasse, muito pelo contrário; esteve muito presente na vida dela. Causou-lhe tristeza. Deixou com que ela caisse no poço quase sem fundo. Fez com que ela se sentisse sozinha. Assim foi por alguns anos, até aprender a ser auto-suficiente.
(Por mais que sejamos fortes, sempre precisamos de pessoas)
E quando, definitivamente, aprendeu a ser sozinha, a andar com as próprias pernas, a viver da sua maneira (que foi passado para mim de herança após a sua morte - vocês já estão cansados de saber que nasci mais dura do que ela, vivo dizendo isso), a insegurança se instalou na minha vida.
As pessoas são capazes de dizer coisas. Essas coisas, por mais que sejam ditas por pessoas de grande confiança, devem ser ditas com cuidado. Ouvi coisas que me deixaram fraca e, pela primeira vez nesses 2 meses e meio de vida, senti medo. O mesmo medo que ela sentiu antes de se ver na mais profunda solidão.
O medo da insegurança agora me acompanha nos meus sonhos e nas minhas atitudes. Não sei mais como ser diferente.
Duas pessoas já se "foram" este ano, e fiquei com medo de uma terceira ou quarta. Talvez por serem importantes, ou por serem mais duas pessoas que se vão. Ainda não sei qual é o caso. O fato é que é muito estranho ter que conviver com idéias antigas, lembranças dela que me assombram agora.