sábado, 13 de outubro de 2007

Da infância

Eu tenho 22 anos.Isso significa que estou na faculdade, trabalhando, sofrendo problemas financeiros, namorando sério e tendo todos os problemas de gente grande que costumam acontecer.É lógico que isso tudo não se encaixa com o que vivi há dez anos atrás, quando eu era uma menina que estava saindo dessa fase da infância.A falta que eu sinto do carrinho de rolimã descendo a ladeira e dos tombos homéricos que levei quando eu jogava bola no estacionamento do prédio não se comparam a nada.
Eu era um menino, assumo.Jogava bola, adorava as aulas de judô que eu não fazia (é coisa de menino, dizia mamãe), corria atrás dos meninos pra bater e até bati em algumas meninas da escola.Sim, sempre fui muito marrenta.Adorava uma bermuda, mas eu me sentia deslocada das amiguinhas por ser praticamente um moleque.Então eu brincava de Barbie.Passava a tarde inteira na casa da minha melhor amiga que virou minha irmã, a Sá, penteando cabelos de boneca, vestindo-as para bailes com musiquinha que a gente promovia entre as nossas bonecas.As minhas bonecas eram lindas e as roupinhas da Sá eram muito legais, então a gente se divertia de verdade.Tardes e tardes no quarto dela, comendo pipoca e brincando de bonecas.Assim eu aprendi a cuidar dos meus brinquedos.Eles tinham caixas específicas, eu fazia a zona na sala, minha mãe ficava doida, mas pra arrumar eu levava décadas; eu colocava peça por peça dentro da caixa, pra não quebrar ou amassar.Antes do meu irmão nascer, eu tinha Barbies lindas, roupinhas fantásticas, ursos de pelúcia, mas me amarrava numa bola de futebol.Depois que ele nasceu, muitos carrinhos e bonecos daqueles seriados japoneses (Jiraya, Jaspion, essas coisas) tomaram conta da sala.Aprendi a gostar de carros e ensinei meu irmão a cuidar dos carros dele.Claro que sem muito sucesso, ele é uma máquina mortífera!Mas eu tentava, e isso valeu a pena.Montávamos Lego, ficávamos a tarde toda com aquela cidadezinha de pecinhas coloridas pela sala, meu avô pisava nas pecinhas espalhadas na sala e minha mãe tinha infartos só de pensar.Na verdade, meu avô sempre deu corda pras nossas bagunças.Meu irmão sentiu muita falta dele quando ele foi pro hospital e nunca mais voltou.A lembrança mais bonita da minha infância era meu avô, com seu chimarrão sentado na cozinha as nove da manhã.Quando ele foi embora, eu já era uma adolescente.Mas meu irmão era criança de carrinhos e Lego e ele ficou muito mal.
Adorava viajar pra Angra.Minha tia tinha uma casa absurdamente linda perto do corpo de bombeiros da cidade e tinha piscinas enormes e azuis.Eu ficava doida!Adorava brincar de tubarão naquelas piscinas.Quando eu era bem pequena, eu ficava na piscina de gente pequena; quando eu resolvi cresceeeeeeeeeeeeeeeeeeeeer, passei a frequentar a piscina de gente grande...com 11 anos.As meninas que iam brincar na casa da minha tia tinhas 12 ou 13 e ficavam na piscina pequena.Dentre tantas outras observações que fiz ao longo da minha puberdade, percebi que teria problemas com a minha aparência.
A familia do meu pai é composta por pessoas gigantescas.Meus avós, pais dele, nao eram tao grandes assim, mas meus tios nao sao tão baixinhos quanto eles cismam em dizer.Meu pai tem 1,84m.Nas festinhas da escola, era um saco montar um par para mim nas festas juninas.Eu queria dançar sempre com o mesmo menino, a minha primeira paixãozinha (que me rendeu uma história peculiar uns 15 anos depois), mas ele sempre foi muito baixinho.Aliás, TODOS da minha turma da escola eram muito baixinhos pra mim.Minha mãe dizia que eles eram baixinhos, mas eu sabia que era exatamente o contrário; EU era muito absurda pra eles.Enfim, micos à parte, porque eu tinha que dançar com aqueles guris que batiam nos meus decotes do vestido da festa junina, sempre curti participar dessas apresentações da escola.Na 4a série, eu segurei um cartaz, minha mãe ficou toda orgulhosa e tirou dezenas de fotos.O que dizia no cartaz: um ponto de exclamação.É, assim, ó: !
Eu fazia balé.É, não riam, eu fazia balé!!!Usava aquelas roupas rosas, com sainha, meia calça e maiô, um coque na cabeça e lá estava eu, linda e bela, com minhas sapatilhas também rosas.Eu me sentia a garota mais bonita da turma.É claro que eu não era, aos dez anos eu era um vara pau!Era estranha, eu...Continuando, ai eu fazia balé.Levantava minha perna nas alturas, saltava como uma pluma e tinha aquele perfil de bailarina...claro que eu sempre ficava escondida no palco, as meninas mais bonitas ficavam na frente.Eu odiaaaaaaava isso!Foi ai que eu tive um surto de inteligência e passei pro CPII.Tive que sair do balé!Foi ai que a minha professora de balé decidiu dar uma valorizada na criança que vos fala.Passei a dançar lá na frente, no meio do palco, e todos conseguiam me ver.Linda?Lógico!Era a única da turma que usava sutiã.Ah, me sentia o mulherão.Há quem diga que hoje sou um mulherão, mas aos dez anos, quem tinha peito era um mulherão!
Minhas brincadeiras de rua foram os piques, que me renderam um gesso na perna aos 7 anos.Virei o xodó da tia.Muletas, gesso e cara emburrada.Nunca ficava feliz com machucados que limitam meus movimentos.Estou contundida hoje por causa do TKD (Gabriel, matador de criancinha, que piorou meu pezinho depois que eu chutei a mão de pedra do Jeffrei¬¬) e isso tirou todo meu humor do feriado.Aos sete anos eu me ralei, cai de cabeça, e torci o pé esquerdo.Na minha adolescência tirei 7 dos dez dedos da mão do lugar e ferrei o joelho, tudo no futebol e handbol da escola.Sempre ficava de mau humor.Voltando aos sete anos, foram 15 dias com aquele gesso maldito.Ao tirar aquela porcaria, voltei a aprontar e correr, e todas as cicatrizes vieram.Elas sumiram com o tempo, mas meu joelho era constantemente coberto com band-aids.Hoje tenho 4 cicatrizes: uma no pé, por causa de futebol, uma no tórax, quando o espelho do banheiro caiu em cima de mim e duas na virilha, quando fiz um exame.Isso ainda foi na minha infância, mas no finzinho dela, quando fui na casa de uma amiga em Vista Alegre (no CPII conheci muitos lugares longínquos - agora ando explorando áreas perigosas) e um pernilongo estranho me picou.Minha perna ficou cheia de manchas verdes e marrons e eu fui numa dermatologista pra saber o que rolou.Ela tirou um pedacinho da minha pele bem perto das manchas: na virilha.
Curtia Xuxa, Paquitas, Trem da Alegria e Os Abelhudos.Adorava Mara e, quando fiquei mais velha, com uns nove anos, passei a gostar de Eliana.Aos 11, descobri os clássicos japoneses, Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion e Jiraya.Adorava Sandy e Jr e fui fã deles até uns 18 anos, quando eu percebi que eles ficaram realmente muito escrotos.Aos 14 ou 15 anos, via Chiquititas.Largava a mochila da escola longe e ligava a tevê.Cavaleiros do Zodíaco, meu desenho favorito.A Saga das 12 Casas.Amava!!!!O cosmo flamejante, Shun esquentando Hyoga, aqueles cabelos esvoaçantes do Shiryu, o Seya, ele era escroto, mas meu preferido era o Ikki.Eu sempre fui marrenta como o Ikki, meio fria, até os meus 14 anos.
Não tive amigos de infância, apenas a minha irmã Sá, na verdade, amigos de verdade ainda espero estar conhecendo-os.Brinquedos, hoje todos estão guardados na casa do meu tio em Caxias.Livros infantis foram dados e hoje baixei tantas músicas infantis para a festa.Festa ploc, eu vou me acabar lá.Aos 22 anos, trabalhando, estudando, namorando sério e tendo problemas de gente grande.

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