segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Olhar sobre a vida

E assim que ele entrou no onibus pela porta de trás, o motoristab percebeu e gritou de lá da frente: Pode descer daí, moleque! O pivete logo esbravejou um vai-tomar-no-cu, desceu do onibus e tacou-lhe uma pedra. Eram vinte centímetros da minha cabeça...
***
Morar na rua é fácil, pensava comigo mesma dentro do 464, seguindo em direção ao Catete. Morar na rua te deixa isento das obrigações. As pessoas ficam com pena. Você consegue fácil um vidro de cola pra enganar o estômago. Morar na rua não te obriga a ir pra escola, porque lá é muito chato. Na rua, você pode ver aqueles executivos que tanto ralam de terno e gravata, que correm pelas ruas, que suam para levar comida para casa, para sobreviver. Quem mora na rua sobrevive sem ralar. Pedem esmolas, conseguem compaixão de quem passa desapercebido por ai, assaltam, assustam. Nada precisam fazer. Se drogam. Se matam. Se esquecem. Vivem com muito mais intensidade do que nós. Possuem o corpo muito mais resistente.
Das mães que engravidam e largam o filho por ai. Eles crescem na rua, tentam sobreviver. Sobem no onibus do metrô com o prazer de arrancar de quem luta o sonho do livro caro de medicina. Sobem nos onibus pela porta de trás para nos assustar e, não satisfeitam, tentam nos matar. Se a pedra tivesse me acertado, viria em cheio na minha nuca e eu morreria sem dor alguma. Ele saberia? Tudo que ele queria era subir no onibus.
Eles se drogam, bebem, assustam. Se fossem eles a serem os assustados?Mal sabem eles que nós temos medo deles. Eles sabem. Tiros, muitos tiros. Cuidado aonde você vai.
Na volta do meu trajeto, vindo do Catete para o Estácio, dentro do 433, o onibus parou. Tive a oportunidade de ver um belo yop tchagui dado por um leigo em taekwon do. Era um moleque mais velho aplicando o pé em cheio no peito de um menor. Talvez eu estivesse assitindo uma boa exibição de matsoki; ela pagou 70 por mes durante 7 meses para não conseguir aprender o que ele fez no meio da praça sem pagar nada. O menor apanhou e ninguém fez nada para conter o maior. O onibus voltou a andar quando o menor estava desacordado no chão.
Será que há solução para esse tipo de vida? Onde está a educação do respeito? Até nós, que vamos à escola, que lutamos para uma vaga na faculdade, aprendemos a ser violentos no dia-a-dia. Esquecer das pessoas a nossa volta, seja por medo, seja por comodismo.
Um político novo, um prefeito, um governador, nenhum deles mudarão esse tipo de comportamento. O mundo virou selva violenta de quem é mais apto. A cidade de Darwin.

4 comentários:

  1. Quero falar com vc. Como fasso isso?

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  2. Se eu por meu msn aqui vc adiciona?
    Sou uma velha amiga sua que quer te fazer uma surpresa emi-essi-enica.

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  3. Ok, coloque seu msn aqui e eu te add O.o

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  4. tati.total@hotmail.com

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