A tendencia é de a nossa vida ser feita de erros, e eu estou aqui para confessar os meus...
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Pensar é estar doente dos olhos
As melhores coisas da vida são feitas sem pensar, nem antes, nem depois de terem sido feitas. Apenas fazer, deixar as coisas como elas devem acontecer. E se a vontade pede, ela deve ser obedecida. O dicernimento fala mais alto do que o pensamento. O pensar prende, o dicernimento dá a noção da vontade.
O mundo não se fez para pensarmos nele.
Daí, decidí parar de pensar, pelo menos para que não complete um ano de pensamentos fúteis e perdidos.
***
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
(Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa)
domingo, 23 de novembro de 2008
Sono
Os pesadelos acabaram. De repente, voltei a dormir. Como se tivesse passado uma longa chuva de verão na minha vida: intensa, imprevisível, e por ser uma chuva de verão, a espera de que ela acabasse logo era angustiante. E acabou. E voltei a dormir.
Agora com licença, que eu não acomodo com o que me incomoda. Vou dormir.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Tensa
Virou-se para o lado da janela. Arragou o travesseiro. Fechou os olhos com fúria. Pesadelos horríveis pela 4a noite seguida.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
De como estou feliz e satisfeita com meu cotidiano e uma reflexão meio depressiva
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No último domingo, enquanto eu era, assisti pessoas sendo e fiquei admirada. Pessoas reunidas num grande propósito, festejando, rindo e brincando. Todos estavam lá. Inclusive aquele que ninguém contava, o que foi mais bonito e emocionante. Estavam todos lá.
Vasculhei, entre minhas lembranças e as dela, coisas semelhantes. Não encontrei. Desejei que toda aquela cena também acontecesse comigo. Desejei que fosse aceita do jeito que eu sou e que fosse amada. Desejei que me respeitassem e que me valorizassem. Desejei que sentissem falta de mim.
Pode ser uma segunda parte meio "voucortarmeuspulsos", mas, na verdade, nem é tanto. Neste ano, eu e ela levamos várias pisadas, desaforos, nos ignoraram e nos esqueceram. Não nos ouviram e não nos respeitaram. Esqueceram de nós. E, para piorar, uma das pessoas que ela sentia muita saudade se foi deste mundo. É uma segunda parte meio real.
A vida não é "Malhação", em que todos são bacanas, ou "Friends" em que todos se encontram no mesmo café por mais de dez anos e compartilham segredos intimos. Pelo menos, minha vida não é feita disso.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Restaurar uma vida II
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Sendo professora, eu aprendo mais do que ensino. Aprendo novas linguagens, novas histórias, novas vidas. O lado bom de ser professora é poder curtir esse momento de aprendizado. Via de mão dupla; e isso é muito gostoso. Gosto de ouvir histórias de alunos. Com tão pouca idade, eles têm muito o que me contar. Ela teve uma aluna recém saída da depressão no fim do ano passado, e ela ficou admirada com a força dela. Menina forte. Com 14 anos, tomava remédios para se controlar. Tentou se matar, agora não me lembro de quê.
Em mais uma das minhas idas ao Catete, enquanto esperava com a mãe e a avó a porta ser aberta pela minha aluna, nem percebi que a demora poderia ser um indício de algo. A avó apertou a campainha e ficamos de papo na porta. Num momento de grande desespero, mãe e avó se olharam, com aquele olhar que só quem entende sabe o que pode ter acontecido.
Conheci bem esse olhar por conta dela. Ah, ela mais uma vez. Ela que montou toda essa vida pra mim. Ela, que também passou por isso. Admirável, talvez. É difícil vencer a si mesmo, a tentação de destruir a própria vida. Juro, eu não teria coragem.
A avó apertou com mais urgencia a campainha. Desespero. Logo fiquei assutada; na verdade, já estava, pois sabia do que se tratava. Fiquei com muito receio de ver coisas que poderia não querer ver.
Ontem fui lá outra vez, para mais um texto, mais uma aula. Quando já ia embora, perguntei a ela onde ficava o banco e ela disse que perguntaria a avó. Fiquei no corredor da sua casa, esperando a menina perguntar a avó onde ficava o banco. O que me chamou a atenção foi uma foto muito bonita de uma enérgica garota loira e alta. Os dentes saltavam dos lábios, parecia feliz, pelo menos na foto. Por um instante, me perguntei quem era aquela garota na foto, tão cheia de vida e animada, bem vestida num vestido preto. Quando avistei minha aluna no fundo do corredor, com os cabelos desgrunhados e olheiras fundas, logo identifiquei.
A tristeza nos impede de restaurar uma vida. Mesmo triste, mesmo esquecida por si, ela tenta e isso é notável. Consigo ver nela a força de mudar, de voltar a acompanhar o mundo. Tenho muita vontade de perguntá-la o que a deixou assim. Gosto de ouvir histórias.
Pois espero que a aluna também goste de ouvir as minhas histórias dela.
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Você leu, gostou, mas não quer comentar aqui? Tá, td bem, me manda um e-mail: patriciateixeiramonteiro@gmail.com
P.S.: pessoa que quer me fazer uma surpresa, me mande um e-mail, ainda espero...
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Olhar sobre a vida
Das mães que engravidam e largam o filho por ai. Eles crescem na rua, tentam sobreviver. Sobem no onibus do metrô com o prazer de arrancar de quem luta o sonho do livro caro de medicina. Sobem nos onibus pela porta de trás para nos assustar e, não satisfeitam, tentam nos matar. Se a pedra tivesse me acertado, viria em cheio na minha nuca e eu morreria sem dor alguma. Ele saberia? Tudo que ele queria era subir no onibus.
Eles se drogam, bebem, assustam. Se fossem eles a serem os assustados?Mal sabem eles que nós temos medo deles. Eles sabem. Tiros, muitos tiros. Cuidado aonde você vai.
Na volta do meu trajeto, vindo do Catete para o Estácio, dentro do 433, o onibus parou. Tive a oportunidade de ver um belo yop tchagui dado por um leigo em taekwon do. Era um moleque mais velho aplicando o pé em cheio no peito de um menor. Talvez eu estivesse assitindo uma boa exibição de matsoki; ela pagou 70 por mes durante 7 meses para não conseguir aprender o que ele fez no meio da praça sem pagar nada. O menor apanhou e ninguém fez nada para conter o maior. O onibus voltou a andar quando o menor estava desacordado no chão.
Será que há solução para esse tipo de vida? Onde está a educação do respeito? Até nós, que vamos à escola, que lutamos para uma vaga na faculdade, aprendemos a ser violentos no dia-a-dia. Esquecer das pessoas a nossa volta, seja por medo, seja por comodismo.
Um político novo, um prefeito, um governador, nenhum deles mudarão esse tipo de comportamento. O mundo virou selva violenta de quem é mais apto. A cidade de Darwin.