sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Recuperar uma vida

Tá, eu sei, eu reclamo muito da profissão que ela escolheu pra mim. Hoje, porém, vou dar um creditozinho a ela, mas só dessa vez, hein? Ou não...
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Saí de Copacabana, depois de duas horas muito animadas de aulas intensas com uma jovenzinha de 14 anos, para uma outra aula. Confesso que não estava com o melhor humor desse mundo, juntando TPM com o fato de estar sol, calor e eu estar andando pela Zona Sul ao lado de pessoas com trajes de banho (e eu de calça jeans e camiseta). Tinha que ir, né? Ganhar dinheiro, ossos do ofício. No trajeto, fiquei matutando sobre como é tão chato se empolgar numa aula enquanto o maldito do aluno está quase pegando no sono. Fiquei matutando sobre minha vontade extra-comunal de sair dessa vida e entrar num laboratório cheio de microscópios. Cheguei à conclusão que nasci pra ser pobre, mesmo...
O prédio era muito bonito. Pensava que, no Catete, só tinha aquelas casas velhas, tombadas pelo patrimonio do município, com suas paredes descascadas e portas de madeira velha, recheada de cupins. Parecia que eu estava no outro mundo do Catete.
Lembrei o que a mãe da aluna havia me dito e fui com o psicológico preparado; sabia o que eu ia encontrar ao subir o elevador. Ela teve problemas semelhantes quando tinha a mesma idade da tal da minha aluna. Ela tomou remédios também. Ela sentiu-se triste e desesperançada. De uma forma ou de outra, conseguiu vencer boa parte de toda a melancolia do fim de adolescencia. A herança que ela me deixou foi a baixa auto-estima. E acho que tenho motivos para reclamar das minhas coisas (apesar de não querer reclamar tanto assim, sabe?).
Enquanto conversava com a menina, percebi que suas mãos tremiam e sua vontade de ser não existia na sua expressão. Aquilo me deixou triste. Foi uma hora de aula apenas, mas, para mim, foi como se eu voltasse a vida dela e sentisse um pouco da tristeza que ela sentiu quando tinha a idade da minha aluna. Elas não tinham aquela vontade de ser. Ser é muito difícil e até entendo que, às vezes, é difícil ser. Acordar sendo e ser até o fim do dia. Vestimos uma fantasia e saímos por ai. Não somos nós mesmos sempre. Não sou eu mesma fora de casa. Nem dentro. Tenho sonhos, pensamentos, vontades, que deixo quietas até o dia acabar. Em meus sonhos, tudo se realiza. Deixo com que eles sejam a minha realidade e isso é muito mais profundo do que difícil. Todo mundo é assim.
E a minha aluna estava cansada de ser. São várias as hipóteses que podem ter levado a pequena jovem ao cansaço. Pessoas, ou falta delas, algum tipo de decepção ou qualquer outra coisa. A princípio, pensei que seria um grande desafio, mas depois que ela disse que eu não parecia uma professora, mas uma amiga dela da escola, percebi que este caso seria talvez o mais emocionante.
Para quem já sofreu muito um dia, muita mágoa fica pelos dias, meses, anos que se seguem. Um lugar, uma música, uma frase, qualquer coisa. Andar pela Zona Sul me faz lembrar de muitos fatos da minha vida, de muitos erros. O tipo de pessoas que frequentam o lugar, o cheiro da praia da Zona Sul. Não que seja complicado, nem gostoso. É engraçado, tétricamente engraçado, lembrar de coisas que deveriam ser esquecidas. A gente guarda coisas que nem prestam mais. Pois se não concorda comigo, guarde um dia seu para arrumar aquela gaveta nojenta que você não encosta há anos. Além de traças, você vai achar uma carta de um antigo amor, de uma amiga que se foi, uma foto da turma da escola. Isso vai te levar aos fatos e você vai ver que você sofreu um dia. Talvez mais ou menos do que a menina do Catete. O lance é quando a gente tenta passar por cima. Ou, simplesmente, não tenta.
Pois o que me trouxe aqui para falar desta aluna não foi o caso de ela ser uma menina a se recuperar de uma depressão, mas de ser uma menina que luta contra a doença. Foi ela que disse à mãe que queria voltar a estudar. Foi por causa dela mesma que a mãe dela me ligou. Será que lutamos pelo que nos desagrada? Ou será que deixamos com que as coisas (nos) fagocitem?
Qual é o papel dos problemas da nossa vida no nosso mundo? E para que servem os amigos?
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Ando numa fase muito profunda da minha vida, mas tudo está muito explosivo, à flor da pele. Peço desculpas se choco ou causo desinteresse. Sinto agora, pela ausencia de vocês, que meu blog virou diário. Porque diário é uma coisa que ninguém lê...

3 comentários:

  1. Eu leio. Só não me sinto cápaz de comentar nada. Às vezes acho que a melhor resposta é o silêncio. Minhas palavras não estariam a altura.

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  2. Eu também leio e acho fantástica a capacidade que você tem de expressar teus sentimentos nesse "papel"
    Vo cê disse que "O lance é quando a gente tenta passar por cima. Ou, simplesmente, não tenta." Eu disse que "Todo problema não resolvido gera sua repetição em dimensão aumentada, daí a gente sofre"
    Como me disse a nossa professora (q eu acho que vc não ama!rs) uma vez, "palavras são nossa forma de pôr pra fora,então, que vertam aos borbotões". O teu blog vale muito a pena! Aprendo muito com vc!:)

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  3. Amiga...eu tb sempreeee leio ...

    eu tava fora e c sabe disso agora q jah to em dia rsrrs

    to com saudades...

    bjss

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