terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os bons morrem cedo

A vida nos prega peças.
E depois que eu saí daquele universo tão tomado por coisas estranhas para mergulhar de vez no vestibular, muito senti medo. Estive sozinha por muito tempo e não sabia como agir na companhia de pessoas. Apredi tão devagar, que, dessa vez, não deu tempo de aprender a lição que você poderia ter me dado.
Lembro-me que a sua inteligência era tão notável que você me ajudava antes das provas da escola. E eu nunca me esquecerei das tardes no seu quarto ouvindo Backstreet Boys. Guardo com carinho as fitas que eu usava pra gravar nossas besteiras. Suas cartas não estão amareladas porque gosto de ler e reler.
Fico rindo sozinha quando eu me lembro das nossas histórias dos doze anos. Lembro das nossas histórias e das primeiras paixões. Dos barracos que a gente encenou. Lembro da minha amiga, minha grande amiga, que sempre me dava um conselho prático quando a filosofia caia melhor.
Quando nos separaram, quase morri. Estudar sem você na minha sala poderia ser assustador, mas foi justamente ao contrario. Vocë continuou comigo e me apresentou outros amigos. Tínhamos mais histórias para contar, dividir. Não deixamos de ir juntas até o metrô, depois de uma longa manhã de estudos. Adorava te encontrar no caminho, porque pegávamos sentidos opostos da Linha 1.
Nossas tardes de sábado ao som do Sonic era perfeito. Aquele bonequinho azul rolando em nossos olhos nos deixava alegres. Respeitava ao maximo sua família, devidos aos problemas. A minha sempre te adorou.Não tinha como reclamar de você; ninguém tinha o que dizer contra você. Todos te adoravam, mas eu te amava, porque era você uma das minhas melhores amigas nos tempos de escola.
Fazíamos aniversário quase juntas e eu me sentia como se fossemos o espelho uma da outra, com suas diferenças. Sempre profundas, esforçadas, capazes, responsáveis. Sempre fui mais animada, para esconder a melancolia que você deixava transparecer no seus olhos escondidos atrás dos grossos óculos de miopía.
Nos meus 15 anos, tive que falar do quando você era importante. Como você estava bonita enquanto tomava cuidado de estar arrumada para minha festa. Você lá me deixou feliz. Sempre adorava falar de você nos meus aniversários. Capricornianas, nós duas. Eu de 26, você de 28. O que são dois dias, porque podiamos ser gêmeas...de alma!
A entrega da Pena de Ouro foi um dia que me encheu de orgulho. Minha maior amiga lá em cima, ganhando um prêmio por todo esforço que fez. Merecido. Mereceu depois de tantos problemas de trabalhos em grupo, depois de tantas dores de cabeça e correria. Você venceu a Elizabeth Pena na 5a série! Venceu o Paixão na 8a! Venceu o Fernandes no 1o ano!
E a vida pregou a primeira peça; me derrubou numa grande derrota na minha existencia, sofri e chorei sozinha, sem poder recorrer a ninguém. Perdi você de vista, não sabia mais onde te procurar. Queria ter você ao meu lado e nunca mais pude ter a chance de, novamente, lhe dizer o quanto você foi importante pra mim.
Você se foi, e eu não pude lhe dizer que uso aparelhos como você usou nos tempos de escola. Não pude lhe mostrar que sou outra pessoa, com outro rosto. Não pude ouvir de você os elogios que você fazia a mim, porque os amigos conseguem ver a beleza que, às vezes, ninguém encontra. Atrás dos seus olhos grossos e aparelhos dentários, via a linda menina que seria uma grande e xuberante mulher. Tenho certeza que seria, Livia, eu sempre tive.
Hoje você não mostra mais pra gente seu esforço em tirar boas notas na escola. Não joga mais Sonic, nem ouve Backstreet Boys. Este ano, não comemorarás seu aniversário junto comigo e eu lembrarei de você. Não pude te dar um abraço hoje, aos 23 anos, depois de 12 anos de carinho que senti por você. Quero fazer diferente, e não deixar que as coisas ruins tomem conta das boas. A amizade é boa, Lívia, e você, no seu silêncio e melancolia, me ensinou que a amizade é boa. Esquecer não é perdoar, mas saberei como fazer.
Você deve ter sofrido muito nos seus últimos dias. Deve ter sonhado com dias melhores, que não virão. Deve ter sonhado com a vida, mas Deus fez seu papel de levá-la para Ele. Ele leva sempre os bons, eles morrem cedo.
Te amo, Livia, te amo muito! Obrigada por tudo!
***
Minha amiga Livia Mirella morreu em 30/09/2008 e eu nem pude lhe dizer o quanto a amo. Disse-lhe quando adolescente, mas entendam, todos, que os amigos são importantes. Eles se vão, e voltam, só basta deixá-los voltar.
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Ah, hoje não tem alter-ego. Na verdade, estou meio frustrada. Esforço não se encaixa comigo e...nhá, deixa pra lá...
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Ah, Marcela, tentei não ser tão profunda, pode postar que eu deixo ^^

2 comentários:

  1. Livia foi a primeira pessoa que conheci no CPII. Cheguei cedo na escola, procurei minha sala, mas não encontrava, posto que não havia numero na porta. E lá estava Livia, sentada, lendo, tomando suquinho, aguardando a aula de Francês. Ao ser por mim interpelada, prontamente e com muita disposição me atendeu, tirou minahs dpuvidas, e ainda me integrou à vida social naquela nova escola. Hoje me dá uma tristeza profunda ter perdido conttao com ela, q foi para mim uma amiga preciosa e verdadeira. Espero q ela esteja bem melhor q tds nós, num lugar mais bonito, calmo e tranquilo. E q olhe por tds nós.

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