domingo, 17 de agosto de 2008

Do comportamento humano (ou a primeira night)

Ela sempre gostou de música, então, ela sempre quis que o pai dela deixasse sair para aquelas matines esquisitas que rolavam na Tijuca (quem se lembra do Terceiro Milênio ou da Raio de Sol, em 1999?). Depois dos 15 anos, ele passou a desistir de mante-la em casa e decidiu deixá-la ir. Desde então, ela foi treinando seu instinto observador. Gostou daquilo. Podia ficar horas e horas observando o comportamento humano dentro de uma boate; e levou essa observação para o mundo iluminado do lado de fora.

Eu, portanto, já nasci com o espírito de observação aguçadíssimo, já que foi uma das milhares de heranças que ela me deixou. E é legal você sentar em algum lugar e ver pessoas conversando, o jeito que elas têm de falar ou de se mexer. Sou capaz de reconhecer qualquer pessoa de longe só pelo seu jeito de andar ou de se vestir. Observo muito o comportamento humano e até que isso é muito divertido.

Ontem, algumas amigas dela me chamaram pra boate. Uma delas me via pela primeira vez e ficou impressionada de como eu estava bonita. Ouvi muito isso desde o dia em que nasci, muitos amigos dela disseram a mesma coisa, mas eu sempre achei que ela fosse muito bonita, já que, mesmo com aquele defeito que ela nao gostava muito de encontrar no espelho, conseguia fazer um relativo sucesso (talvez pela fita métrica maldita ou...ah, sim, assim como ela, também não gostei muito de ter pernas muito compridas e tronco forte; pareço uma ogra!).

O legal da boate, dependendo de qual boate você vai, são as pessoas. Ela, antes de morrer, ia muito a boates GLS e se divertia muito. Costumava ver travestis, bichinhas pão-com-ovo, lésbicas tímidas ou animadas, gays totalmente desinibidos na hora de dançar, coreografias bem feitas e muita gritaria e extase na hora que a rainha Madonna soltava seus primeiros acordes na pick-up do DJ. Divertido, bastante mesmo.

Nas boates hetero, o legal é analisar o comportamento das pessoas na sua relação caça-caçador. Ela já beijou alguns caras nessas boates, mas eu não seria louca, mesmo se ela não tivesse deixado um namorado para eu cuidar. Talvez por uma questão de nojo ou uma questão de opinião. Talvez até porque eu senti a mesma sensação que a lata de massa de tomate deve sentir na prateleira do supermercado. Não que todas as mulheres que vão para a boate sejam mercadorias, mas é assim que mais ou menos elas são tratadas. Isso me deixa nervosa. Mais nervosa ainda quando uma mulher aceita essa condição de ser uma lata de massa de tomate. Em dado momento da noite, na hora que começou a tocar umas batidas que eu já tinha ouvido em alguns lugares (umas coisas como eu vou pro baile de sainha/agora sou solteira e ninguém vai me segurar...) uma menina que estava dançando ali perto de mim se empolgou de tal forma que arrancou a parte de cima do macacão e ficou dançando exatamente do jeito que vocês devem ter imaginado. Foi nessa hora, como se o anunciante do mercado tivesse acabado de declarar promoção naquela prateleira, que centenas de marmanjos foram dançar a volta dela. As pessoas fazem sucesso com o que tem. Passada a empolgação, ela vestiu o macacão e foi para o outro lado da pista, quieta. Acho que a batida durou uma hora (nunca dancei tanto na minha vida, também, acho que é porque realmente eu só havia dançado uma vez, no ensaio do jazz O.O), e nessa uma hora, uns tres caras beijaram a boca da garota. Um exercício linguístico curioso e cansativo.

Os caras bebem (e bastante) para conseguirem chegar numa mulher. Não sei para que tanto, se chegar numa mulher me parece tão fácil, basta você saber como chegar nesta mulher. Acredito que uma questão de observação faz com que você entenda mais ou menos o perfil do seu enlatado de massa de tomate. Gosta de dançar tal música, fala de tal maneira, ri de tal forma... E os caras sentem medo de perder tempo de chegar junto e tentam pegar, de qualquer jeito, a primeira lata que ver pela frente, de qualquer jeito. Alguns gostam de perder esse tempo fitando, estudando e...bebendo. O garoto não parava de comprar garrafinhas de cerveja para o amigo. A garrafa acabava e o garoto saia correndo para comprar mais. Às vezes, o garoto cutucava o amigo e apontava para a nossa direção, e ele apenas fazia um gesto com a cabeça. Eu sabia do interesse do amigo do rapaz. E o interesse estava na nossa roda.

Acaso ou coincidencia, uma das amigas dela me confessou que o tal menino que bebia e bebia parecia interessante. Disso eu já sabia, mas...será que poderia rolar um oi, tudo bem ainda naquela noite? Era engraçado o jeito que ele se aproximava dela sem que ela o visse. Eu ria. Rodava a roda de amigos onde dançávamos. Queria ajudar o rapaz.

Bonito, sim. Para a opinião da minha amiga, é claro (sim, minha porque estou aqui com a função de ser amiga dos amigos dela, eles não sabem que ela morreu, ainda). ele dançava atrás dela, eu dava um jeito de ela perceber, mas acho que ela estava muito entretida com a batida da boa música da boate. E quanto mais o tempo passava, mais eu me perguntava se ia acontecer mesmo, e mais ela (inabalável) continuava daquele jeito plácido de to nem ai (adoro), mas eu sabia que lá dentro dela a pergunta martelava. O amigo do garoto cutucou diversas vezes entre uma busca de bebida e outra. Éramos todos espectadores de uma situação que poderia ou não acontecer.

Nesse momento, os caras em geral estavam com a cara cheia de álcool, puxando as meninas de forma brutas e algumas - a maioria - cedendo, por medo ou por vontade ou por seiláoque. Alguns já faziam passinhos coreografados (provavelmente frequentadores assíduos de bailes, já me falaram sobre esses eventos...), outros comemoravam aniversários. A figura da boate se modificava com o passar das horas; alguns iam embora, outros paravam de dançar, muitos se arranjavam com suas massas de tomate. Minha amkiga já havia deixado de ser massa de tomate desde o momento em que a demora passou ser longa; ele estava estudando a melhor hora e ela continuava plácida.

Foi quando ele resolveu respirar fundo todas as coragens que havia ingerido e decidiu falar. Bonito, muito bonito. Talvez quis fazer da melhor forma ou simplesmente achava muito para ele. Todo o meu esforço havia sido de valia para eles. Pareciam diferentes. Pareciam tão iguais misturados àquelas tantas gentes em beijos e abraços. Momento da night em que todos se resolviam. Resolvi encostar meu corpo mal-acostumado na pilastra. Pessoas iam embora. Alguns ainda carregando suas meninas, outros suas latas de massa de tomate. Era como se exibíssemos para que eles vissem nossos atributos. Tudo que eu queria fazer naquela noite era dançar, e foi justamente isso que fiz. Ninguém mexeu comigo, talvez porque eu consegui passar a imagem de que eu não estava lá para isso. Muitas meninas não são de arrancar o macacão ou de usar o decote mais profundo da festa. É definitivamente gostoso caprichar uma maquiagem e escolher uma roupa bacana. Dá pra dançar vestindo-se assim? Quando não se sai à caça, costumamos não sair com cara de latas de massa de tomate, com aquelas cores vibrantes na cara e roupas chamativas. Quando a gente não espera nada, saímos do jeito que realmente somos. Minha saia jeans, minha bata preta, minha sandália rasteira. Assim, normal, do jeito que sou, sem querer que ninguém me perturbe.

***

Eu estava pensando sobre o comportamento de quem namora e é tão complexo entender o que leva a fazermos com que não sintamos à vontade quando estamos sozinhas. Ao ver toda aquela gente se beijando e se pegando, por mais que eu tenha passado aquele dia fazendo o mesmo, bateu uma vontade de faze-lo naquele momento. É uma questão de gostos, e meu namorado não gosta. Gosto por uma questão de diversão alternativa (devemos, eu e ela, sermos as únicas desse mundo que gosta de boate para ver o comportamento das pessoas). Lá estava eu encostada na pilastra, vendo todas as pessoas se beijando. Questão de sentir inveja? Ah, não, não sei se me acostumaria com a vida de solteira que esse povo leva, mas sei lá. Acho que toda a minha vontade agora de isolar-me anda me confundindo os miolos.

***

Dani, menina linda que vive acessando meu blog, esse post é pra você =P

2 comentários:

  1. Olá hj de manhã vi q tava dois post atrasada, mas agora jah to em dia..

    bom, como vc fui para dançar...e muuuuito como nao fazia a muito tempo (- qdo estamos na ND)

    e vc querendo me mostrar e eu jah sabia d td...

    mesmo com a demora...foi mais legal assim. dancei muito e rolou ...e nao como um massa de tomate enlatada (ótima comparação)...

    eh estranho mesmo nao estar com o namorado do lado...já passei por isso. (temos q carregá-lo na prox vez).

    bjksss

    A minha verdadeira e nova amiga

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  2. Amiga, cada vez mais encantada com sua forma de escrever. Quando conhecerei a pessoa que nasceu??? Madonna em dezembro no RJ. Partiu? Rsrs. Te adoro. Muitas saudades

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