quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Da identidade

São pequenas coisas que eu fico me perguntando:"E se não pudéssemos fazê-lo?"
Hoje, na faculdade, sentei-me ao lado de alguém que eu já havia visto pelos corredores da Letras. Ele faz latim, é inteligentíssimo e muito participativo nas aulas. O tipo de cara que interage de verdade com o professor. Ele é cego, grava as aulas e salva no laptop que carrega pra cima e pra baixo.
Após duas horas de aula de literatura portuguesa, sai da sala com a mochila nas costas e ouvi a música que saia do novo bandejão da Letras . Ao chegar no corredor central, vi uma coisa muito bacana: os operários da obra do bandejão foram homenageados, havia um som pra galera curtir e muita gente comemorando uma conquista do CA pros alunos, super bonito. No pátio central, as árvores faziam uma sobra bonita do meio-dia, as pessoas se socializando, conversando, fumando seu baseado (não que eu ache isso bacana, mas era o que eu via, oras). Quando saí do prédio, aquela grama tão verde brilhando do sol, meninas conversando nos bancos da entrada da faculdade, a cachorra Pretinha se esfregando na grama por uma seção de coceirinha nas costas.
Tanta coisa bonita à nossa volta, uma ilha tão bonita onde estudamos (ah, claro, cercada de bosta por todos os lados, mas estamos numa ilha, e ela fica na Baía de Guanabara, acho que não há muita escapatória)...e se não pudéssemos ver nada disso? Como saberíamos se aquilo é belo, ou como imaginaríamos que o mundo é?
Tudo em nosso mundo gira em torno da imagem e esse cara que tive contato hoje não tem essa imagem que estamos tão acostumados a ter. A tecnologia dos óculos para quem pouco enxerga e aquelas cirurgias bacanas pra diminuir a miopia, são todas coisas tão desejadas pelas pessoas que pouco enxergam que, nós, que enxergamos relativamente bem, nem percebemos isso.
Meu primeiro mês de vida foi sem poder saborear as coisas gostosas que mamãe fazia na hora do jantar. Aquilo para mim era normal. Sopas são normais. Hoje eu não me contenho de alegria com um prato de...sei lá...frango com purê de batatas, coisa que qualquer um come a qualquer hora. Não tive essa oportunidade a vida toda, mas se eu não tivesse o direito de comer pra sempre? Tipo, nunca mais eu pudesse comer? Fiquei com medo de não sentir o prazer da comida...
Pessoas que não podem ouvir as mais belas músicas ou as mais melosas declarações de amor, por serem surdas...ou pessoas que não podem andar ou pegar coisas, ou pessoas que tenhal aguma característica que a impeçam de...
Gosto de saber que quem pode fazer as coisas mais normais da vida ajudam a quem não pode. E quando não podemos ajudar, eles sabem se virar. É bacana ver os ajustes da natureza...e os ajustes do homem também.
***
Não entendo mais quem eu sou ou o que sou para outras pessoas. Sinto-me tão sem identidade, tão invisível, até para mim...

Um comentário:

  1. Você tem uma função primordial no Universo: encantar, tocar e levar a relexão com suas palavras. Seja falando de amizade nos depoimentos ou simplesmente em tom de desabafo, você sempre faz diferença com seu olhar sensível e percepção idem.Continue alegrando e nos induzindo ao turbilhão de pensamentos. Te adoro.

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