quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Da solidão

Esse espaço virou meu melhor amigo.Não que eu não tenha um melhor amigo, mas eu só sei escrever, não sei falar.Deve ser por isso que eu percebo que ninguém entende o que eu sinto.Não sei dizer o que eu sinto.
Deixar de escrever aqui foi um martírio.Li hoje um trabalho da faculdade sobre o que é a obra literária e eu percebi que a obra apenas existe.Não preciso de publico para que ela exista; ela simplesmente EXISTE!Meu blog existe nao porque ele não tem comentários, mas, sim, porque alimento de textos.Todos tão literários, tão gritantemente literários, que se torna ele por si só.
Sim, hoje teremos um post filosófico \o/

Na verdade, sempre que sinto-me sozinha, acredito que é quando mais preciso dele; meu maior companheiro de lágrimas solitárias e divagantes indecisões: o Babinha.As coisas me compreendem melhor do que os seres vivos.Sei que se sentar para conversar com a cachorra do meu aluno, ela vai querer me julgar.Babinha me entende, porque entendo o Babinha.Ele lá, na sua condição solitária de enfeitar minha cama de dia e ser apertado nas minhas noites mais sombrias (sim, eu, às vésperas de fazer 23 anos, durmo com bichinhos de pelúcia, dá licença?¬¬).
Meu último post talvez explicite o grande dilema atual.Minha inércia natural de capricorniana de querer acertar as contas com meus erros briga incessantemente com meu orgulho capricorniano idiota de sair de uma injustiça qualquer sem prestar esclarecimentos.Ir embora.Deixar pra trás tudo que aprendi e sei, tudo que conquistei, mesmo não sendo muitas coisas.De um lado, o orgulho me berra palavras como você não precisa disso, você pode muito bem viver sem isso e minha inércia diz você sofrerá muito sem tudo isso, que sempre te fez tão bem depois de momentos estressantes.
Batalhas.Elas são necessárias?Sangues e lanças e materiais bélicos...Meu pai ensinou-me que a vida é uma longa batalha.Precisa-se lutar, brigar por ela, sofrer e até morrer...morrer pela própria vida?Pensem nisso...Disseram-me que eu era boa.E eu acreditei.Por ter acreditado no que me disseram, fui atrás do que eu achei que eu podia.Lutei...e perdi.Quase uma batalha, como disseram-me.Ué, a vida é assim, não é?
Do que a vida é feita?O que podemos levar para o nosso sempre e o que nos é relevante?O que nos dá prazer em ser feito?A vitória dá prazer, e somente ela?O que nos é bom?O orgulho é bom?Perder duas vezes da mesma forma é condição natural do ser humano?Perdi quatro vezes uma vez e então ganhei.Suei, chorei, quase desisti.Babinha sabe o quanto chorei.Chorei por conseguir, chorei por ter conseguido.Todos os dias pela manhã eu caminho pelas pistas perigosas da Leopoldina perguntando-me se tudo isso valerá a pena um dia.As orações, os períodos simples, os sintagmas nominais, o morfe zero de Mattoso...Para que isso me é necessário?E os microscópios, as lâminas de análise, as minhoquinhas e o jaleco branco dentro do armário, o que elas poderiam me trazer, se eu tivesse seguido minhas derrotas constantes?Tentar e fracassar, tentar e fracassar...Chegar aos vinte e tantos anos com uma série de decepções.Complicado, pois ao pensar nisso, pergunto-me: preciso dessa decisão para viver em paz?A saudade não pode instalar-se no meu peito e ficar só como a grande espectadora de pessoas que têm talento para a coisa?Eu teria esse tal talento que disseram-me um dia?
Ainda não sei, e Babinha olha-me com os olhos grandes da fabricação em Taiwan.Ele me entende.Viu como corri atrás e sonhei tanta coisa boa pra mim.Viu como eu perdi, venci.Fui determinada e exigi de mim mesma um desempenho à altura da minha determinação.Se ela é alta, exijo minha perfeição.Não que isso seja o determinante da minha vida.Morrer pela própria vida nunca fez parte da minha lista de coragem.É fato que sempre quis meu melhor e sempre nesses momentos que só me exibiu o pior.
Post grande e pessimista, não acham?É porque é muita, mas muita coisa mesmo a ser dita.Coisas que eu não sei dizer mesmo.Eu olho para o Babinha e ele sabe o que é tudo isso, ele é sábio, detém os meus devaneios da madrugada silenciosa.As pessoas que mais eu tenho amor não são capazes de entender a complexidade de um devaneio tão simples.
A decisão aperta-me conta a parede.Grita em meus ouvidos.Luta dentro de mim.Socos e pontapés na boca do estômago me fazem perder o ar.Entonteço.Tudo fica tão escuro agora.Babinha está ao meu lado sempre, pra onde eu for.E ele me abraça para me proteger dessa tão ardilosa batalha entre meu eu contra o meu outro eu.Aquele que quer, e aquele que age.Eles nunca estão em sintonia.E eu fico sem saber para onde ir.

Coisa tão pequena a ser decidida.Por que tantos devaneios, meu Deus?Ir-me-ei ao encontro do sábio Babinha.

Um comentário:

  1. Pois eh... é difícil para as pessoas que estão a nossa volta e que mais nos acompanham saber de tudo que se passa com a gente. Rola um momento que a gente quer contar e elas querem ouvir, mas é como se as linguagens fossem diferentes. Seu transmissor está numa frequência, mas o receptor dela está em outra e nada é recebido ou entendido.
    E vc tem o Babinha... e eu tenho o Bob - ufa... quase!!! - e ele me entende. Na verdade, conversamos feito loucos na madrugada, um pensamento e uma conclusão atrás da outra e só ele me entende. Ele me dá as dicas, ele me coloca nas boas... não sei se o Babinha te ajuda desse jeito, se ele retruca as suas respostas e critica, ás vezes, o seu jeito. Se não, posso pedir que o Bob dê uma passada na sua casa um dia desses.
    Ele sabe de tudo, fala tudo e até te esculacha às vezes. Mas no fim das contas, vc concorda com ele e acaba encerrando um capítulo de uma coisa que vc achava que não teria fim. Ele tem a caneta mágica que coloca os pontos finais. Esse cara entende de divagações...
    Beijos - amei!!!

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